No primeiro post do mês de agosto do Traduzindo a Dublagem, trago não só uma, e sim duas ferramentas para você não penar mais tanto assim com os dilemas que a tradução te impõe, principalmente no campo da dublagem. Quer saber que ferramentas valiosas são essas? Então vem comigo! 😉

É inegável que a tradução não para de nos surpreender. Quando pensamos que já vimos de tudo, recebemos uma rasteira e precisamos colocar a cabeça no lugar para solucionar os empecilhos que aparecem em novos trabalhos. No entanto, à medida que fui crescendo na minha carreira, parei para refletir o seguinte: “eu não preciso esperar que novas dificuldades surjam para que só aí eu precise tentar pensar numa solução. Afinal de contas, muito provavelmente alguém já lidou com os dilemas que eu vou enfrentar em algum momento, então por que não me munir de uma vez, de forma a estar preparado para os novos desafios?”

Se pararmos para pensar, existem questionamentos muito comuns que assolam os tradutores das mais diversas áreas (e mais uma vez, vemos que para traduzir bem não basta só saber uma língua estrangeira, não é? 😉 ). Vejamos alguns deles: como adaptar um poema que é fundamental para a trama do filme? Como adaptar aquela musiquinha, aquele trocadilho ou aquela piada? Como adaptar neologismos? Será que devo ou não traduzir nomes de personagens? E de lugares?

Bom, quando me toquei de que eu mesmo tinha muitas dessas dúvidas, tratei de correr atrás não necessariamente de respostas prontas, mas sim das possíveis abordagens que poderia tomar diante dos projetos que eu tivesse em mãos. Não demorei para concluir que, principalmente no ramo da tradução audiovisual como um todo e no ramo da tradução literária, muitos tradutores já enfrentaram exatamente os mesmos pepinos que eu enfrentei e que ainda viria a enfrentar. Assim sendo, por que não ir em busca de casos semelhantes e examinar as soluções dadas?

Com certeza, você deve estar se perguntando: “afinal, como posso adquirir essas ferramentas e essas estratégias de que você tanto fala, Paulo?” Para facilitar, dividi em dois grupos as principais formas para você já ir montando o seu arsenal tradutório, então anota aí!

1) Leituras acadêmicas e sobre o ato de traduzir

Pode parecer óbvio, mas a verdade é que há muitos tradutores que não leem o quanto deveriam, principalmente leituras acadêmicas como artigos, monografias, teses e dissertações. Infelizmente, muitos acham que tais leituras são inúteis, mas posso garantir que não são.

Sim, algumas podem até ser mais maçantes ou pesadas, mas, após a leitura, o importante é sair mais preparado para exercer o seu ofício como tradutor. Aqui também incluo livros famosos sobre a arte da tradução, como os dois grandes clássicos de Paulo Rónai, Escola de Tradutores e A tradução vivida. No campo da tradução para dublagem, por exemplo, temos o famoso Audiovisual translation: Dubbing, de Frederic Chaume e O processo da tradução para dublagem brasileira: teoria e prática, da dubladora e tradutora para dublagem, Dilma Machado.

Em suma, a dica é: leia o maior número possível de livros que abordem as diversas modalidades tradutórias, principalmente a tradução audiovisual e a tradução literária. Ah, e não se esqueça também das leituras sobre as teorias de tradução, pois elas dão um excelente contexto das abordagens e tendências dessa atividade ao longo da história da humanidade.

São nas leituras acadêmicas em que acharemos também muitos estudos de caso passados, o que nos leva a refletir sobre as práticas tradutórias adotadas em certas épocas e se elas são ainda são passíveis de serem aplicadas em projetos atuais. Senso crítico é crucial para o desenvolvimento do tradutor, por isso, leia, leia e leia mais um pouco. Para meus amigos e colegas da tradução para dublagem, deixo aqui mais uma recomendação que considero um exemplo primoroso de como a teoria pode ajudar diretamente na prática do tradutor para dublagem: a dissertação Diretor de dublagem e dublador: os co-autores da tradução para dublagem, de Regina Helena Ribeiro Mendes.

2) Observação e estudo de produtos traduzidos

Para mim, essa é a forma, digamos, mais lúdica de conseguir novas ferramentas para realizar o meu trabalho da melhor forma: a observação e estudo de outras obras traduzidas como livros, quadrinhos, mangás, e, obviamente, os mais variados gêneros do audiovisual.

Por exemplo, pegue aquele seu livro favorito e o estude a fundo. Quais estratégias de tradução/adaptação foram utilizadas ali? Você concorda? Você usaria? São possíveis de serem aplicadas na tradução para dublagem? Esse estudo é vital para munir o tradutor, e posso afirmar isso com o mínimo de propriedade, pois só esse ano já apliquei estratégias de adaptação de nomes de lugares e personagens na tradução para dublagem tomando como base casos famosos da nossa tradução literária. Além do mais, realizar essa observação e esse estudo é também ter, de certa forma, um termômetro do que está sendo feito e aceito pelo mercado, já parou para pensar nisso? Quer coisa melhor? 😉

Por fim, não se esqueça de que tudo isso, além de munição tradutória, é munição de argumentação, pois há vezes em que teremos que defender o nosso ponto de vista para o cliente também. Assim sendo, essas ferramentas são fundamentais nessas horas. A verdade é que podemos aprender com praticamente qualquer mídia (livros, games, produções audiovisuais…), mas sempre com a ressalva de que certas estratégias precisam ser remodeladas para a mídia com a qual você estiver lidando.

E agora? Vai começar a montar o seu arsenal para driblar os futuros pepinos tradutórios com mais facilidade? Trate de começar o quanto antes, pois eu garanto que, pouco a pouco, você se aperfeiçoará em suas habilidades e conseguirá um reconhecimento cada vez maior por parte do mercado.

Pela minha própria experiência, vejo que não há nada melhor do que estar bem munido e com um bom arsenal de estratégias de tradução e adaptação, pois o que para muitos pode significar horas batendo cabeça para resolver um pepino, você pode resolver em minutos. E por quê? Porque você só vai ter que esticar o braço, pegar sua caixa de ferramentas e analisar qual é a certa para resolver seu problema tradutório.

Espero que tenha gostado do assunto de hoje e não se esqueça de deixar o seu comentário. Vai ser um prazer continuar conversando com você. Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

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