É inegável que dentro do universo da tradução como um todo há diversas temáticas e aspectos para serem estudados e analisados, e no segmento da tradução audiovisual (TAV) não poderia ser diferente. Dentro desse campo, onde a tradução para dublagem está inserida, há uma infinidade de temas interessantes e que são explorados não só por fãs e entusiastas como também são temas de posts de blogs, vídeos, monografias, dissertações de mestrado, e por aí vai.
Diante disso, resolvi compartilhar com você no post de hoje os meus principais interesses e paixões dentro desse mundo fantástico da dublagem. Vem comigo! 😉
O modo como nos comunicamos uns com os outros é o pilar da tradução para dublagem e, naturalmente, é um campo que dá muito pano pra manga e muito debate. Uma das coisas mais interessantes que reparei, principalmente quando comecei a exercer esse ofício, foi justamente começar a refletir profundamente sobre a interação entre os falantes da língua portuguesa.
Já parou pra pensar em todas as nossas expressões idiomáticas, os nossos ditados populares, as nossas gírias, enfim, em toda essa gama de comunicação e como é preciso dominá-la e saber quando usá-la nessa modalidade tradutória? Nossa língua é muito rica e sempre me impressiono como podemos descobrir mais a respeito dela a cada projeto de tradução que finalizamos.
Dentro desse tema tão abrangente, nunca me esqueço de uma fala de um colega que vi em um dos grupos de tradução do facebook e que me fez refletir: “todos nós somos falantes da língua portuguesa, mas ao entrar no campo da tradução, a nossa língua passa a ser um instrumento de trabalho.”
E por que achei essa fala tão importante? Justamente porque o ato tradutório é 100% ativo, logo cada palavra de uma tradução deve ser pensada antes de ir para o cliente. Passando isso para a dublagem, o tradutor precisa refletir a cada momento sobre como ele irá conceber as falas no seu idioma. O desafio desse profissional é justamente conseguir, a partir de uma oralidade pré-fabricada nos diálogos de uma produção estrangeira, reconcebê-los na sua língua de chegada, de forma crível e verossímil dentro da proposta da produção audiovisual que tiver em mãos.
Para realizar esse ofício com louvor, ele precisa saber caminhar entre os registros da língua (formal, informal, subpadrão…), pois isso lhe trará versatilidade profissional. Algo que sempre digo é que o bom tradutor para dublagem deve saber ir da fala de um plebeu a de um rei, e da fala de um presidente a de um traficante. Esse trabalho de análise feito pelo tradutor, de forma a tentar caracterizar as falas de personagens, muitas vezes tão distintos em uma mesma produção pode se mostrar muito desafiador, mas ao mesmo tempo, muito gostoso.
Dominar tantos aspectos da própria língua leva tempo, com certeza, e acredito que seja um aprendizado que nunca cesse, pois a nossa língua se modifica com o tempo, não é verdade? Não só isso, como também sabemos que certas mudanças não são aceitas prontamente por todos os profissionais da área, como os famosos anglicismos que estão cada vez mais comuns entre nós.
Obviamente, os tradutores são diferentes e adotam posturas e dão soluções diferentes para as mais diversas falas, e é justamente essa pluralidade de opções e de formas de expressar a forma como a nossa gente se comunica que me fascina.
Ah, e caso você se interesse por esse assunto, já escrevi outros dois posts aqui no blog abordando essa temática. Você pode conferi-los clicando aqui e aqui! 😉
Sempre fui e ainda sou consumidor assíduo de animações, meu passado disneyano e amigos mais próximos não me deixam mentir. O gênero das animações, tanto as ocidentais quanto as orientais, os famosos animes, pode ir até os limites da imaginação humana. A cada ano que passa, fico mais surpreso aos níveis de beleza que as animações conseguiram alcançar. Além disso, costuma ser um gênero em que a dublagem dá mais asas à imaginação e à liberdade artística, não só na própria tradução, como na concepção das vozes brasileiras dos personagens, sem perder de vista o apelo junto ao público telespectador.
Entre os principais gêneros do audiovisual, as animações são, sem sombra de dúvida, o meu gênero preferido e cada vez mais tenho tido a chance de trabalhar e explorá-las no meu trabalho. Alguns dos meus principais trabalhos até hoje são: Thunderbirds (Gloob), Voltron: o defensor lendário (Netflix), Se der um biscoito a um rato (Amazon Prime), Niko e a espada da luz (Amazon Prime), Gantz-O (Netflix) e Kakegurui (Netflix).
Quem até hoje não se pega cantando alguma música da Disney, por exemplo? Pois é, esse é o poder que as músicas dubladas têm. Quem cresceu assistindo às animações com a nossa versão brasileira jamais se esquece da letra. À medida que fui adentrando na área da dublagem, passei a prestar mais atenção nesse aspecto das produções audiovisuais que têm músicas e que, muitas vezes, ocorrem paralelamente ao processo da tradução dos diálogos.
Além de passar a ouvir, principalmente, as versões em inglês das músicas da Disney, passei a ouvir as versões em francês, espanhol, italiano, grego, russo, polonês, mandarim, japonês… tudo isso graças ao santo youtube, e é impressionante como as mudanças tendem a ser drásticas entre os países, pelos mais diversos fatores. Afinal, como fazer línguas tão distintas se curvarem a métrica e a prosódia da língua do original e, ainda por cima, com uma boca para seguir? Os resultados são os mais variados e, devo confessar, acho extremamente fascinante. Já pensou em ouvir a música-tema de A Bela Adormecida em francês?
Minha paixão por esse assunto me fez escrever minha monografia de especialização lato sensu chamada “Músicas dubladas em português do Brasil: adaptações ou versões?” e a estrear o NOVEMBRO MUSICAL aqui no blog no ano passado, uma programação especial dedicada a explicar o básico sobre as músicas dubladas na nossa versão brasileira. Caso você ainda não tenha conferido, é só clicar aqui, aqui, aqui e aqui! Os links estão na ordem de lançamento dos posts durante o mês de novembro pra você não se perder.
Para fechar o post de hoje, deixo você com um vídeo em que temos a música-tema cantada em 24 idiomas pela personagem Moana, do longa Moana: um mar de aventuras, uma das animações mais recentes da Disney. É um vídeo oficial lançado pela própria Disney na época do filme para promovê-lo e que não deixa de mostrar essa pluralidade das músicas dubladas ao redor do mundo. Espero que goste, um grande abraço e até o próximo post! 😉
Viviane Andrade
23 de abril de 2018Meu Deus, que post foi esse?? Muito bom! O clipe foi fechar com chave de ouro!! Adorei!!
Hoje num almoço de família, falei de como gosto de suas postagens. Escritas ou em vídeo sempre me ensinam tanto. E me aproximam deste universo no qual tenho tentado entrar, da TAV.
Sou tão apaixonada por animações e no meu trabalho como professora às vezes os colegas “frown” porque amo as versões em português – já que assisto com meus filhos, vou aprendendo. Agora mesmo, meu caçula sentou do meu lado e quis assistir o vídeo da Moana. Depois levantou e disse “Prefiro em Português. É melhor!” Que trabalho lindo o do tradutor!
Obrigada, Paulo!
Paulo Noriega
26 de abril de 2018Viviane, seus comentários sempre me deixam muito feliz, de verdade. Saber que meu trabalho toca alguém de alguma forma é extremamente gratificante. Garanto que, no que depender de mim, sempre vai ter conteúdo bacana e relevante por aqui. 😉
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