Pois muito bem! Após um tempinho sem dar as caras, o Traduzindo a Dublagem voltou na última sexta-feira de maio e agora continua com força total em junho, mês em que se comemora o dia do dublador. Por isso, nada melhor do que um mês temático apenas com posts dedicados à categoria de dublagem, não é mesmo? Afinal, é sempre bom divulgarmos e enaltecermos, cada vez mais, a nossa versão brasileira e a boa dublagem.

Falando em boa dublagem, começo o junho da dublagem fazendo uma pergunta: “qual é o poder da boa dublagem?” Já parou pra pensar nisso? O que a boa dublagem tem e que nos faz sempre falar dela de forma tão saudosa? Nesse primeiro post da nossa programação especial, venho tentar colocar em palavras, analisar e tentar entender o que uma boa dublagem pode fazer por uma obra audiovisual, assim como os efeitos colaterais provocados por dublagens de má qualidade. Pronto? Vem comigo! 😉

Para muitos, dublar parece simples à primeira vista, mas garanto que NÃO É. Para se ter um bom resultado na tela, o dublador precisa dominar diversos atributos, como: uma boa dicção, uma boa emissão de voz, bons reflexos e, principalmente, o poder de conseguir passar toda a emoção possível para o seu personagem apenas com a voz, seu instrumento de trabalho. Ah, e tudo isso sincronizando com a boca de um personagem que ele nunca viu na vida, devo acrescentar. Se quiser saber sobre essas características de forma mais aprofundada, assim como outras dicas para dubladores iniciais, tem um guest post incrível aqui no blog, escrito pela dubladora queridíssima, Nica Nogueira.

Só por isso, já é possível observar que, apenas na etapa da dublagem em si que ocorre no momento das gravações em estúdio, inúmeras preocupações precisam ser consideradas para se chegar a um resultado satisfatório para o público. No entanto, devemos lembrar que, para se ter um produto dublado de excelência, as três grandes etapas do processo precisam estar em plena sinergia: além da dublagem propriamente dita, temos a etapa anterior, a tradução, e a posterior, o processo de pós-produção. Somente à medida que fui entendendo cada vez mais como esse ramo funciona, pude perceber que não existe uma etapa mais importante do que a outra, pois se uma estiver muito aquém, o resultado ficará comprometido de alguma forma. Já tem dois posts aqui no blog em que tratei com mais profundidade sobre essas três etapas, e você pode conferir clicando aqui e aqui. 😉

Agora, no que se refere às fases de tradução e de dublagem em si, percebi algo que queria compartilhar com você: sabia que é possível separar a etapa de tradução e adaptação (e aqui me refiro às falas em si antes de ganharem vida em estúdio) da etapa da execução da dublagem, por mais que pareça ilógico num primeiro momento?

Sei que pode parecer confuso, já que esses dois momentos se fundem no produto final, mas calma que eu explico melhor: eu quero dizer que, independentemente da produção, é possível ter um texto excelente e bem traduzido e adaptado, mas dubladores não tão preparados assim, fato esse que, como sabemos, pode ocorrer com qualquer profissional de qualquer outro segmento. Um bom texto na boca de maus dubladores simplesmente não vinga e não convence o público, já que a tradução voltada para esse segmento tão único só se concretiza na interpretação desses profissionais da voz. Percebe? Também, em contrapartida, é perfeitamente possível que uma boa dublagem, realizada por dubladores excelentes e preparados, salve um texto ruim, duro e mal-traduzido, mesmo que esses profissionais fiquem horas a mais em estúdio para chegar a resultado satisfatório.

A importância dos dubladores é tão importante para o êxito de uma dublagem que até os teóricos de tradução e estudiosos da área salientam isso, pois é fato que, para além das questões restritivas, temporais e labiais intrínsecas à área, existe a fase artística, a interpretação das falas dada pelos nossos dubladores. Afinal, não é à toa que, quem assiste a uma produção com uma dublagem de má qualidade, muitas das queixas acabam sendo direcionadas aos dubladores.

Só pra exemplificar, já ouvi ao longo da vida, frases como “Ah, mas aquele personagem não me convenceu.” ou “A voz daquela mulher estava estranha, sem emoção.” A parte artística é um aspecto extremamente importante e muito do que vemos na tela não vem só dos dubladores em si como também do diretor de dublagem, afinal, ele é o responsável por coordenar o processo em estúdio, desde a escalação dos dubladores até o direcionamento artístico e interpretativo nas gravações, ponto esse vital e necessário para se extrair até a última gota de talento dos dubladores.

Apesar de muitos não reconhecerem, desde o seu começo em nosso país, o Brasil sempre contou com um time tremendo de profissionais, muitos vindos das antigas radionovelas. A lista é enorme, pois são tantos talentos que eu nem conseguiria listar todos sem me esquecer de algum. Para matar as saudades, você pode conferir os talentos desses mestres ao assistir várias das nossas dublagens clássicas como O vento levou e das animações dos estúdios Disney, principalmente as anteriores aos lançamentos da década de 1990.

Agora não pense também que as novas levas não são talentosas. Temos muitos profissionais de destaque hoje em dia e que, para muitos de nós, já se encontram eternizados. Eu mesmo poderia citar alguns aqui, mas como corre o risco de eu acabar esquecendo alguém, que tal deixar os seus dubladores favoritos e de suas produções dubladas favoritas nos comentários? 😉

A verdade é que dublagens memoráveis se eternizam e são lembradas por gerações. Ficam em nossas mentes para sempre e, ao pensarmos em uma certa produção, é muito provável que seja a versão dublada que nos venha à mente. Para mim, é esse o poder da boa dublagem, o de fazer com que produções internacionais ganhem um espaço no nosso coração, no coração do público, enquanto que dublagens ruins são esquecíveis e, em certos casos, até risíveis.

Anos depois de ter entrado nesse ramo, percebo que, quando uma produção estreia com uma dublagem muito aquém do esperado e da altura que, de fato, merece, sabe o que ocorre na realidade? Uma privação dos telespectadores criarem um vínculo emocional com aquele produto e, assim como a boa dublagem, a má dublagem pode ficar circulando por décadas. Em suma, tão cedo haverá a chance de se fazer um bom trabalho em uma redublagem futura. Cada vez mais paro para pensar que o aspecto mais poderoso que a dublagem me proporcionou ao longo da vida é justamente a sensação de alegria ao assistir certas produções, mesmo anos depois, e ainda conseguir ver a beleza das interpretações dos nossos dubladores, muitos que, infelizmente, já nos deixaram.

No entanto, mais uma vez vale lembrar que existem as demais etapas do processo na retaguarda, desde os tradutores até os mixadores. No fim, uma dublagem é bem-sucedida quando toda a equipe se une e dá o seu melhor, o público abraça, consome e começa a recomendar aos demais. Agora quando acontece o extremo oposto, ou seja, quando uma dublagem começa a ser ridicularizada pelo público, automaticamente uma produção deixa de ganhar espaço e o afeto merecidos, caso tivesse recebido um tratamento melhor.

Gostaria de terminar este post dizendo que é muito fácil falar do ruim, mas muitas vezes não exaltamos o bom. Por isso, fica o apelo: valorizemos os nossos, valorizemos os nossos profissionais e a nossa dublagem, a boa dublagem! Enquanto consumidor, viu uma dublagem ruim? Critique e leve suas considerações ao cliente responsável! Viu uma dublagem boa e que te proporcionou uma experiência proveitosa e memorável? Elogie, elogie e elogie mais um pouco, para que possamos continuar adquirindo novos vínculos com tantas produções maravilhosas que continuam chegando por aqui e que anseiam, assim como nós, consumidores, por uma dublagem de qualidade. Um grande abraço e até o próximo post!

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

2 Comentários

Juliana

7 de junho de 2019

Ótimo texto! ☺

    Paulo Noriega

    26 de junho de 2019

    Muito obrigado!

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