Dois guest posts seguidos?! Pois é, mas o de hoje tem sabor de mãe. Afinal, na semana do dia dos mães, nada mais justo do que celebrar as tradutoras que são mães também, não é verdade? Por isso, pedi pra uma amiga pra lá de especial contar um pouco da sua experiência no mundo da tradução audiovisual e como fez (e ainda faz, né?) para equilibrar sua maternidade no dia a dia. Pronto? Vamos lá!

Minha convidada tradutora-mãe é Deborah Menezes Cornelio, tradutora para legendagem e dublagem e revisora há 7 anos. Ela se formou em Letras Português-Inglês e conta com cursos de formação nas áreas de docência e de tradução em seu currículo. É professora de língua inglesa desde 1998, deu aula em diversas escolas e cursos de idiomas e atuou também como coordenadora pedagógica. Ministrou oficinas e palestras em universidades e feiras, e hoje se dedica exclusivamente à tradução. É mãe da Maria Luiza e da Ana Clara e, segundo suas próprias palavras, está sempre lendo alguma coisa e não abre mão do pilates, de um bom café e de feijão fresquinho com coentro. 😉

Deixo você agora com o post da minha convidada e, claro, deixo também minha homenagem a todas as mães, em especial às do mundo da tradução. Um grande abraço e até o próximo post!

Deborah Cornelio

“Era uma vez uma mulher que beira a perfeição: ela dá conta da família, das tarefas do dia a dia, é mãe exemplar, esposa dedicada e, se não bastasse, uma profissional muito organizada, sempre pronta a atender seus clientes e cumprir prazos apertadíssimos sem maiores percalços. Sabe de quem eu estou falando? Se souber, poderia me apresentar, por gentileza? Preciso urgentemente trocar ideias com essa moça.

Vou começar dizendo para ela que sou a Deborah, mãe da Maria Luiza e Ana Clara, duas gêmeas idênticas de quinze anos. Também sou a mulher do Edu, um cara guerreiro e que rala bastante de segunda a segunda. Além disso, sou uma profissional bem ativa no mercado, seja como professora de inglês ou como tradutora audiovisual. E claro, tem a Deborah “eu”, muito curiosa, leitora, inquieta e sempre em busca do amor e do equilíbrio. São muitas Deborah em uma, que se desdobra, se junta e ainda arruma tempo para fazer seu pilates sagrado e comida fresquinha para a família em nome da saúde e das finanças do lar.

Conheça a família da Deborah!

Depois vou contar para ela que comecei a dar aulas bem cedo, aos dezoito anos. Hoje, com trinta e sete, me dedico exclusivamente ao ofício de tradutora. Atuo com mais frequência nas áreas de legendagem e dublagem para clientes variados, e fico toda prosa quando estreia um filme ou série que traduzi, afinal, é mais um “filhinho” que boto no mundo. Trabalho sob pressão, com prazos apertados, mas consigo parar no meio da tarde para bater um papo com as gêmeas, por exemplo. O papo dura pouco, o prazo está sempre no cangote, mas e daí? Pude ser, durante alguns minutos, a versão de mim de que mais gosto: a mãe que traduz e a tradutora que é mãe.

Nessa altura da conversa, vou dar alguns detalhes da minha trajetória profissional. Sou formada em Letras – Português/Inglês e o plano era emendar no mestrado. Fui até aprovada no processo seletivo de Mestrado em Literatura Inglesa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, mas não deu para cursar por, entre outros motivos, precisar trabalhar e ter as gêmeas pequenas precisando de mim na época. Contudo, acabei participando do Núcleo de Estudos da Linguagem da Universidade Federal Fluminense a convite de um bom amigo doutor em Língua Portuguesa.

Na UFF, um colega de classe me indicou para o meu primeiro trabalho de tradução em 2010, e foi só sentir o gostinho que não parei mais. Vi que precisava me especializar caso quisesse ser relevante e fazer carreira no mercado, e parti para PUC-Rio, onde fiz o curso de legendagem com a Carol Alfaro. Depois, fiz o curso de tradução para dublagem com a grande “mestrAmiga” Dilma Machado, e sigo até hoje fazendo pelo menos dois cursos por ano e aprendendo coisas novas todos os dias.

Olha só esse cantinho de trabalho da Deborah (destaque para a coleção de canetas)!

A mãe que traduz me segue por todo canto. Ai dela se não o fizesse. Traduzo porque gosto e traduzo muito porque preciso. Às vezes é um caos – muito trabalho, pouco tempo, coisas demais acontecendo nesse ínterim (porque a vida segue e a louça cresce na pia como gremlins em contato com a água). A rotina de uma tradutora que é mãe é igual a de muitas mulheres que precisam se desdobrar para dar conta de múltiplas atividades. Aqui, conto com a ajuda de todos, mas a máquina de lavar é só minha por ciúmes mesmo.

A parceria é um fundamento seguido à risca no meu lar, porque sem ela não seria possível sermos quem nos propomos a ser. Tem perrengue? Muitos! Como quando as gêmeas costumavam entrar no meu escritório aos berros, brigando feito gato e rato. Ou quando as pessoas achavam que, por eu estar em casa, estaria automaticamente disponível para fazer favores, compras, receber visitas inesperadas a qualquer hora, entre outros mitos que envolvem o trabalho em regime de home office. Aqui, tenho meu escritório separado dos cômodos comuns da casa, e quando estou nele, estou trabalhando e não posso ser interrompida a todo momento. Essa conscientização coletiva é fruto de muita, muita conversa, e hoje todos que fazem parte da minha vida entendem e respeitam.

Já contei que as gêmeas um dia entraram no escritório no meio de uma conference call com um cliente estrangeiro com uma garrafa de café fresquinho nas mãos? Fiquei sem saber o que fazer, sem graça que só, mas não apenas pedi para elas entrarem, como também ofereci café para o cliente. Pedi desculpas pela interrupção, rezei para que ele entendesse e não me dispensasse e… fechamos o contrato. Tudo certo e de acordo com a vida de uma tradutora que também é mãe. Meu trabalho é MUITO importante para mim, mas ser mãe é minha ESSÊNCIA.

As famosas gêmeas da Deborah

Tenho filhos e levo minha carreira a sério, então tive que me organizar para não me frustrar em uma das funções. Produzo melhor à noite, por exemplo, mas precisei me adaptar para trabalhar em horário comercial na medida do possível, conseguir estar em família e ser presente no fim do dia. Nem sempre é possível, principalmente quando o fuso horário do meu cliente é diferente ou o prazo não permite, mas esse é um ponto em que presto muita atenção. Meus fins de semana e feriados são diferentes dos de outros profissionais porque geralmente traduzo, e minha família precisou se adaptar a isso, o que retoma a questão da importância da parceria. Abro mão daqui, eles abrem dali, e juntos seguimos abrindo caminhos.

Por fim, chegaria a hora da troca das últimas ideias com a moça perfeita do início do texto. Ela seria mais ou menos assim: “Moça, tenho minhas dúvidas em relação a sua existência. Acredito que seu conceito de perfeição não seja igual ao meu. A base da minha felicidade reside em estar na presença dos meus, não importando as circunstâncias. Minha casa nem sempre é arrumadinha, contudo estou sempre atenta ao coração e aos questionamentos das minhas filhas, pois estes sim não podem estar bagunçados. E isso não me impede de ser uma profissional dedicada, esforçada e orgulhosa do meu ofício. Ainda arrumo tempo para estudar e estar sempre trocando ideias e parcerias com os colegas de profissão. Sabe, moça, acho que gosto de ser eu, cheia de imperfeições. Espero que a senhorita também goste de ser você e que o seja com verdade. Se assim for, não precisamos de mais nada.”

Um beijo sincero no coração de todas as mães!”

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

5 Comentários

Glaucia

11 de maio de 2018

Essa Deborah é o máximo!!!!

    Paulo Noriega

    13 de maio de 2018

    É mesmo!!! =))

Silvia Dias

5 de julho de 2018

Espetáculo ! Acho que além de mãe e tradutora a Deborah deveria também ser escritora … já li alguns textos dela maravilhosos e criativos …

    Paulo Noriega

    12 de julho de 2018

    Ela é maravilhosa sim, Sílvia! Que bom que gostou! =)

Viviane

21 de setembro de 2018

Gente, como foi que eu perdi este post em Maio?? Ah, acho que foi porque precisava dele agora, pois estou traduzindo um livro, mas paro pra estudar com meu mais velho. É bom saber que tem gente competente no mesmo barco. Obrigada, Deborah. Obrigada, Paulo!

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