O primeiro entrevistado de 2019 é muito, muito especial. Ele é dublador, diretor de dublagem e tradutor de muitas produções de sucesso e agora deu voz ao líder de um dos grupos amados do universo DC, o Robin, em uma das séries que bombaram este mês na Netflix. Quer saber mais sobre a carreira do meu entrevistado do mês? Vem comigo. 😉

Meu convidado para começar o ano com a corda toda é Sérgio Cantú. Filho de uma grande veterana da área, Mariângela Cantú, Sérgio já tem uma carreira vasta com muitos sucessos, seja dublando, dirigindo ou traduzindo. Para homenagear a estreia da série Titãs (Titans) no começo desse mês e que também contou com a minha tradução, consegui bater um papo maravilhoso com o Sérgio, responsável por dublar o personagem Dick Grayson, o Robin, líder dessa equipe tão famosa no universo dos quadrinhos. Espero que goste da nossa conversa e não se esqueça de deixar o seu comentário. Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Sérgio Cantú

Paulo Noriega: “Sérgio, muito obrigado por me receber. Eu gostaria que você começasse contando um pouco sobre você e a sua trajetória no universo da dublagem.”

Sérgio Cantú: “Eu comecei a dublar com 12 anos e, diferentemente do que muitos pensam, não foi a minha mãe que me colocou na dublagem (ri). Eu sou filho da Mariângela Cantú, mas nós começamos praticamente juntos e até fizemos curso de dublagem juntos. Eu dublava muito quando era pequeno e levava a dublagem em paralelo com a escola até entrar na faculdade de Química. Quando comecei a cursar, passei a dublar menos, mas nunca abandonei esse meu lado completamente.

Fiz mestrado, doutorado e fiquei 8 meses em Portugal, o que me fez ficar afastado da dublagem durante esse tempo. Aí quando eu voltei pra fazer meu Pós-Doutorado, consegui voltar a dublar. Com o tempo, comecei a enjoar do meio científico e vi que se eu quisesse mesmo aquilo pra minha vida, eu teria que morar fora do Brasil, porque a área científica por aqui é bem complicada.

Nesse meio tempo, comecei a traduzir pra dublagem também. Todo o tempo que eu passei no mestrado, doutorado e tal me deu uma bagagem muito boa de inglês. Eu tinha que escrever artigos científicos em inglês, me comunicava e lia, obviamente, muita coisa nesse idioma, além de já ser dublador e estar familiarizado com todo o processo da dublagem. A minha primeira oportunidade como tradutor foi na Delart e traduzi acho que a partir da 3ª temporada de Glee, a pedido do Mário Jorge, que dirigia a série na época. Ele gostou muito e aí passei a pegar mais trabalhos como tradutor. Com o tempo, os outros diretores passaram a gostar do meu trabalho, os clientes também, e assim foi. Depois a direção de dublagem entrou na minha vida e, hoje em dia, dublo, traduzo e dirijo, não tendo mais ligação nenhuma com o meio científico (ri).”

Paulo Noriega: “Quais foram os seus principais personagens ao longo da sua carreira?”

Sérgio Cantú: “O Sheldon, da série Big Bang Theory; o Kylo Ren, da nova trilogia de Star Wars; O L, do anime Death Note; o Andrew Garfield, que fez o papel do Homem-Aranha nos dois filmes O Espetacular Homem-Aranha; dublo muito o Elijah Wood e o Zack Effron quando eles aparecem em alguma produção e, na maioria das animações da DC, eu dublo o Asa Noturna, além de dublar agora o Robin, na série Titãs, da Netflix, além de muitos outros personagens. É muita gente pra lembrar (ri).”

Paulo Noriega: “Vamos conversar um pouco mais sobre algum desses personagens, começando pelo Sheldon. Você já conhecia a série antes da dublagem? Conta um pouco como foi dublar esse personagem tão emblemático.”

Sérgio Cantú: “Eu já curtia a série sim e foi muito legal quando a dublagem começou. Foi dublado lá na Cinevideo sob a direção da Priscila Amorim e já tinham sugerido meu nome pro Sheldon. Ele é um personagem incrível e, principalmente no começo, foi difícil me acostumar com o jeito dele. Acho que consegui captar bem a essência, apesar de não achar a minha voz muito parecida com a do Jim Parsons, o ator no original. O fato de ele ser nerd e do meio científico falou muito comigo e fora as várias referências nerds que ele faz a quadrinhos, séries, filmes, etc, que eu adoro. Eu dublo o Sheldon também na série O Jovem Sheldon (Young Sheldon) e dublei esse ator em outras produções como Estrelas além do tempo e até pra uma propaganda da Intel em que ele aparece (ri).”

Paulo Noriega: “E o Asa Noturna nas animações da DC? Como começou a sua carreira com esse personagem?”

Sérgio Cantú: “Conhece o desenho Justiça Jovem, né? Foi ali quando tudo começou e depois esse personagem apareceu em outras animações da DC também. Muitas são dubladas na Cinevideo, e a Miriam Ficher, que era diretora de lá, sabia que eu estava dublando o Asa Noturna no Justiça Jovem e passou a me chamar pra dublar as outras animações em que ele aparecia. Foi assim e, com o tempo, me chamaram pra dublar outras aparições desse personagem em outras mídias também.”

Paulo Noriega: “E como foi o convite pra você dublar o Dick Grayson, o Robin, nessa nova série Titãs, da Netflix? Você foi pego de surpresa ou já esperava que poderiam te chamar?”

Sérgio Cantú: “Olha, eu fui pego de surpresa, apesar de já ter uma certa esperança porque eu já dublei o Brenton Thwaites, o ator que interpreta o Robin em outras produções, mas, no fim, a gente nunca sabe, né? Depende do estúdio pro qual a série fosse, do tratamento que o cliente quisesse dar pra série, etc, mas ainda bem que deu tudo certo. Quando eu estava voltando de uma viagem, o Felipe Drummond, o diretor de dublagem da série, disse que tinha enviado uma amostra da minha voz pro cliente e que foi aprovada. Eu fiquei radiante porque aprendi a ler com os quadrinhos dos Titãs e dos X-Men, então eu tenho uma relação muito profunda com esses personagens. Foi incrível ter participado da série, fiquei feliz mesmo.”

Paulo Noriega: “E o que você achou da pegada que deram pro Robin? O que achou da relação dele com o Batman na série?”

Sérgio Cantú: “Acho que deram uma atualizada na relação entre os dois, e eu curti o resultado. Nos quadrinhos, o Robin não queria largar o Batman por conta da violência, era porque ele queria uma nova identidade e não ficar só como ajudante do Batman. Eu só queria que ele já tivesse virado o Asa Noturna, mas isso deve rolar só na próxima temporada (ri).”

Não perca a série Titãs só na Netflix!

Paulo Noriega: “Outro personagem seu muito icônico foi o L, do anime Death Note. Você já sabia do sucesso que era o desenho na época?”

Sérgio Cantú: “Quando foi dublado na Cinevideo, o diretor era o Jorge Vasconcellos. Originalmente, eu fiz teste de voz pro Light, mas o Jorge achou que minha voz poderia ficar legal no L. Só sei que, no fim, o cliente optou por me deixar no L mesmo. Na época, eu comentei  que estava dublando esse anime com o meu amigo, Guilherme Briggs, e ele me explicou bem o que era o desenho, a pegada e tudo mais. Ele me emprestou as fitas em VHS que ele tinha, e consegui assistir tudo antes de gravar, então eu já conhecia bem a série e o que aconteceria com o meu personagem. Foi uma experiência muito interessante e muito legal pra mim.”

Paulo Noriega: “Sérgio, como você já comentou, a dublagem e a tradução entraram primeiro na sua vida. A partir de que momento, você passou a dirigir também?”

Sérgio Cantú: “Meio que começou quando eu ajudei o Guilherme Briggs na trilogia O Hobbit. Eu traduzi os três longas, e o Briggs, além de ser o diretor de dublagem, também dubla o Gollum. Como foi um projeto muito complicado e minucioso, eu acompanhava muito as gravações em estúdio e cheguei a orientar o Briggs nas cenas do Gollum. Essa minha assistência passou a ser comentada pelos diretores, pelos clientes, até que chegou um momento em que a Disney disse que precisava de mais diretores pra lidar com as direções das produções dela que começariam a chegar muito juntas. Jogaram meu nome como sugestão porque eu conhecia muito o universo Marvel e estava pra chegar o Capitão América 2: O Soldado Invernal. Foi assim, esse foi o primeiro longa em que eu atuei como diretor e depois vieram muitos outros projetos.”

Paulo Noriega: “Conta um pouco mais sobre a sua relação com os filmes do Universo Cinematográfico da Marvel, que são produções em que você está sempre presente, seja como tradutor ou como diretor.”

Sérgio Cantú: “É um universo que eu adoro e em que eu atuo como tradutor já há um tempo. Na direção, eu divido alguns projetos com o Fábio Azevedo lá de São Paulo. Seja na tradução ou na direção, eu me envolvo muito, é como se eu estivesse ao lado daqueles personagens. Eu chorei na última cena de Os Vingadores: Guerra Infinita, e eu torço pra que os X-Men sejam integrados a esse universo o mais rápido possível (ri). Todos esses personagens e esse universo falam muito comigo, sabe? É uma relação muito antiga que vem desde a minha infância e espero que esses longas durem ainda por muito tempo.”

A relação de Sérgio com o universo Marvel é muito antiga

Paulo Noriega: “E Sérgio, por fim, em meio a tantas produções fantásticas que você já traduziu como Frozen: uma aventura congelante, o liveaction mais recente da Disney de Cinderela, a trilogia O Hobbit, e várias produções no universo dos super-heróis, tanto da DC quanto da Marvel, é possível escolher as produções que mais te marcaram e te tocaram como tradutor?”

Sérgio Cantú: “São várias, mas vamos lá. A trilogia O Hobbit foi um prazer imenso e fiquei muito feliz quando fui escolhido pra traduzir porque adoro o universo do Tolkien. Eu traduzo a leva mais recente das produções de Star Wars também, né? Houve a última redublagem dos seis filmes que foi pedida pela Disney, mas quem traduzia era o Guilherme Briggs, mas a partir do Episódio VII, eu passei a traduzir. É outro universo que eu adoro, então é um grande privilégio pra mim poder atuar nele.

Houve alguns filmes específicos em que eu me emocionei muito enquanto traduzia, e um deles foi As Aventuras de Pi. O final me emocionou muito, eu comecei a chorar. Outro longa que me marcou também foi Interestelar, que eu traduzi e dirigi. O mais legal desse filme foi que eu tive que viajar pro exterior pra assistir, e teve outro que me marcou muito também, que foi Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Pra essa produção, eu também viajei a convite do cliente, acompanhado pelo Guilherme Briggs e o Jorge Lucas e pela Sylvia Salustti. A viagem foi maravilhosa e muito especial pra mim, porque mesmo sendo à trabalho, foi entre amigos e sinto que até estreitou os nossos laços. Claro que houve outras produções importantes, mas essas que eu comentei acredito que foram as que me marcaram mais como tradutor.”

Eu e Sérgio Cantú

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

5 Comentários

Juliana

31 de janeiro de 2019

Muito boa! Parabéns!

    Paulo Noriega

    1 de fevereiro de 2019

    Obrigado, Juliana! =)

    Paulo Noriega

    1 de maio de 2019

    Obrigado!!! =))

Amanda Rodrigues

14 de março de 2019

Paulo, você é um arraso!! É maravilhoso trabalhar com você. Tradução impecável, extremo cuidado com as produções!! Muito bom!!

    Paulo Noriega

    28 de maio de 2019

    Obrigado, Amandaaaaa!!! Também é muito bom trabalhar contigo, sempre na nossa retaguarda. Beijo grande! =***

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