O Traduzindo a Dublagem começa os trabalhos do mês de abril com mais uma entrevista exclusiva! Meu entrevistado de hoje já está há anos na dublagem e vem arrebentando também nas direções de dublagem, tanto as de games quanto as tradicionais. Ficou curioso? Então chega mais e curte essa entrevista comigo. 😉
Para comemorar a nossa primeira parceria tradutor-diretor na série Ghost Wars, que estreou no mês passado na Netflix, meu entrevistado especial de abril é Alexandre Drummond. Alexandre é dublador e diretor de dublagem na MG Estúdios, estúdio localizado no Rio de Janeiro, sem contar que é neto de Orlando Drummond, um dos grandes mestres da nossa versão brasileira. Caso você não tenha conferido a entrevista com esse mito da dublagem, vou deixar o link aqui!
Se você quiser acompanhar a saga de uma cidade remota no Alasca que enfrenta o inferno na Terra após um terremoto ter impedido que os mortos possam encontrar o descanso eterno, Ghost Wars é a sua pedida. Foi uma produção muito bacana de ter traduzido e de ter contado com a parceria do Alexandre ao longo da tradução dos 13 episódios que compõem a primeira temporada. Corre lá e depois me conta o que você achou do resultado!
Agora sem mais delongas, deixo você com mais essa entrevista imperdível. Um grande abraço, aproveite a leitura e até o próximo post! 😉
Paulo Noriega: “Alexandre, muito obrigado por me receber! Por favor, eu gostaria que você se apresentasse em linhas gerais pros leitores do Traduzindo a Dublagem.”
Alexandre Drummond: “Meu nome é Alexandre Drummond, eu tenho 26 anos e dublo desde os meus 9 anos, ou seja, estou nesse universo há muito tempo batalhando e amo muito o que eu faço. Além de dublar, eu também sou diretor de dublagem na MG Estúdios, um estúdio que fica no Rio de Janeiro.”
Paulo Noriega: “Assim como seu irmão, Felipe, você também é neto de Orlando Drummond, um dos grandes mestres da nossa dublagem. O Felipe é seu irmão mais velho e ingressou na dublagem antes, correto?”
Alexandre Drummond: “Isso, isso mesmo.”
Paulo Noriega: “E como se deu a sua inserção? Você assistia ao seu avô e ao seu irmão dublando e foi pegando gosto pela arte da dublagem?”
Alexandre Drummond: “Sim, eu via o meu avô dublando e tal, mas era uma coisa meio irreal pra mim. Meu avô fez grandes personagens como o Scooby Doo e o Popeye… era muito surreal e não era muito palpável, sabe? Quando eu vi o Felipe, a dublagem ficou mais próxima, digamos assim, e fui vendo que poderia ser uma possibilidade pra mim também.
Eu fiz curso, me preparei e o Felipe foi uma inspiração pra mim para eu poder ingressar nesse mundo, com certeza. Por conta dele, eu me senti mais encorajado a tentar me arriscar. Óbvio que meu avô continua sendo meu grande ídolo e a minha principal referência, mas ter o Felipe no ramo foi um grande incentivo e foi muito importante pra mim, de modo que eu seguisse em frente nesse ramo.”
Paulo Noriega: “Quais foram os personagens que você dublou e que mais te marcaram?”
Alexandre Drummond: “Olha, me marcou muito ter feito o Takato, em Digimon Tamers, o Timmy Turner, em Padrinhos Mágicos, eu fui a primeira voz do Timmy. Deixa eu ver… o Flash, é claro, da série The Flash, da Warner. Eu tenho um carinho muito grande por esse personagem, porque o pessoal pede pra eu mandar áudio com a voz dele e tal, sabe? Ele é o personagem que mais me pedem pra fazer a voz e isso me conectou muito com o público, de modo geral. Já mandei áudio pra crianças, pessoas que estavam em hospitais, várias situações, então é um personagem que significa muito pra mim.”
Paulo Noriega: “Alexandre, vamos falar um pouco sobre a dublagem de games que vem crescendo cada vez mais no nosso país e é um segmento em que você já atua também. Como foi o seu primeiro contato com esse modelo de dublagem que difere da dublagem tradicional? Você estranhou a princípio?”
Alexandre Drummond: “Olha, é bem diferente mesmo. Meu contato maior com esse segmento de games foi na direção de dublagem. Eu tive a chance de dirigir títulos muito bacanas como The Witcher 3: wild hunt, Assassin’s Creed: Unity… ah, inclusive eu até dublei o personagem Arno, que é o protagonista desse jogo. Enfim, eu dirigi outros jogos e dublei muita coisa também, é um mercado muito amplo e em que eu gosto de atuar, apesar de não estar mais tão presente quanto antes.”
Paulo Noriega: “Mas e quanto às estranhezas iniciais, já que o processo é diferente do que se tem na dublagem tradicional?”
Alexandre Drummond: “Sem sombra de dúvida, o principal choque é não ter a imagem como é praxe na dublagem tradicional. É raro a gente ter a imagem pra nos guiar. Às vezes, em cenas mais importantes, tem uma diretriz maior e tal, mas, na maioria das falas que são soltas, não tem imagem. Nesses casos complica porque a gente tem que confiar muito na intenção que está na voz do ator lá de fora e pra chegar em um resultado bacana, o trabalho tem que ser muito bem feito e muito bem conduzido, justamente pela ausência do recurso visual.
Caso o ator no original não passe a intenção certa, o dublador aqui não vai ter muito pra onde fugir, então o trabalho já tem que vir muito bom lá de fora pra que a gente possa fazer tudo da melhor forma aqui no momento da dublagem.”
Paulo Noriega: “Como a direção de dublagem passou a fazer parte da sua vida? O que te fez se interessar pela parte da direção?”
Alexandre Drummond: “Pra mim foi um processo natural. Eu fui subindo na minha carreira como dublador e chegou um momento em que eu tive que optar entre seguir dentro da dublagem ou continuar com o curso de publicidade na faculdade que eu cursava. Nessa época, foi quando eu passei a dirigir os games e tal, e isso me abriu portas pra dirigir em outros lugares. Eu devo ter uns quatro anos de direção hoje e tudo foi muito natural. Eu já dublava e depois surgiu a oportunidade de ser diretor no segmento dos jogos, como eu já falei. Abracei essa chance e foi ela que me possibilitou atuar como diretor de dublagem tradicional em outras casas de dublagem.”
Paulo Noriega: “E quais tipos de produção você considera os mais difíceis, tanto no momento de dublar quanto no momento de dirigir?”
Alexandre Drummond: “Pra dublar, eu vou destacar as comédias. O humor depende muito da criatividade, dos momentos certos da comédia e isso exige muito do dublador pra que a comédia cumpra o seu papel aqui no nosso idioma. A tradução também já tem que vir o mais alinhada possível com a proposta da comédia, porque o humor é uma coisa muito local. O nosso humor é muito diferente do americano, por exemplo, então se o texto já colaborar nesse sentido, ajuda muito a gente no estúdio.
Na parte da direção, eu vou destacar séries que são muito detalhadas e minuciosas ou que tem muitas falas de fundo e tal, porque exige um cuidado maior da direção para que a produção fique bem dublada. O diretor precisa ficar muito atento a tudo que se passa na produção, então séries que têm muitos personagens, por exemplo, o diretor precisa se policiar. A comédia também é complicada pra direção porque o diretor precisa sentir também se o humor está fazendo sentido dentro da proposta da produção, então é preciso ficar atento.”
Paulo Noriega: “Alexandre, você já teve a chance de participar de algum projeto na dublagem com algum dos seus irmãos, o Felipe ou o Eduardo, ou até mesmo o seu avô? Por exemplo, você na direção e algum deles dublando ou vice versa?”
Alexandre Drummond: “Sim, aqui na MG mesmo, quando dá a gente chama o meu avô pra fazer alguma pontinha, mas ele não dubla tanto quanto antes, por conta da idade. Agora com o Felipe, aqui na MG, a gente dubla a produção Shadowhunters, da Netflix. O Felipe dubla o Jace e eu, o Alec. Ah, e o Felipe é o diretor da série também hoje em dia. Quem começou na direção foi o Mário, que colocou nós dois juntos e depois o Felipe seguiu na direção.
De vez em quando, o Eduardo, nosso irmão menor, faz algumas coisas com a gente também, então sempre trabalhamos em algum momento. O mais engraçado era que no começo, o meu personagem era apaixonado pelo personagem do Felipe, então eu era apaixonado pelo meu próprio irmão, coisas loucas que a dublagem proporciona pra gente (ri).”
Paulo Noriega: “Que coisa louca! (ri) E Alexandre, por fim, que dicas você pode dar para os tradutores da área de dublagem executarem o seu trabalho cada vez melhor e para os futuros tradutores que pretendem atuar nesse segmento possam começar com o pé direito?”
Alexandre Drummond: “Eu acho que o tradutor precisa ter em mente que ele não está traduzindo um simples texto, né? Não é uma tradução literal, existe a questão cênica da dublagem. Isso é algo que ele vai pescando melhor se ele entender como a dublagem funciona.
O que você faz como tradutor, Paulo, é muito legal porque você vem assistir e ver o que acontece no estúdio. Muitas vezes, uma fala nunca vai caber na boca de um personagem ou uma labial vai ficar muito ruim, então é ter esse entendimento do todo, sabe? A tradução para dublagem tem as suas particularidades e o tradutor precisa realmente entender o que é a dublagem para exercer o ofício da melhor forma. Senso e responsabilidade são as palavras-chave, e eu acredito que o profissional que tenha isso tem tudo pra dar certo.”
Jair Melo
7 de abril de 2018Tive a satisfação de conhecer o Alexandre, antes mesmo da saber de sua profissão. Uma cara muito bacana, a quem passei admirar ainda mais depois de conhecer sua história, seu irmão, seu avô, sua noiva. Meu desejo é que tenha muito sucesso, tenha bastante saúde e seja sempre a pessoa que você gostaria de conhecer. Tudo o que um ser humano consegue, você também consegue. Abração.
1234 sempre. Jair Melo
Paulo Noriega
10 de abril de 2018O Alexandre é uma grande pessoa e um excelente profissional, Jair. Trabalhar com ele é muito bom. Obrigado pelas palavras carinhosas. =)
Lucas Swinerd
7 de abril de 2018Bela entrevista! Queria um pouco mais de detalhe, mas deu pra ter um entendimento bom da dinâmica de tradução + dublagem de uma forma geral
Paulo Noriega
10 de abril de 2018Oi, Lucas! Aqui no blog, se você for na seção dos posts de Tradução, você vai encontrar material e informação de sobra, pode apostar. Dá uma olhada com calma nos posts mais antigos, aqui no blog já tem bastante material. =)
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