O nosso assunto da semana passada sobre as diferenças entre a dublagem e a legendagem continua no post de hoje. Caso você ainda não tenha conferido a primeira parte, clique aqui e depois corre de volta pra cá! Novamente, muito obrigado aos meus amigos e colegas do audiovisual Deborah Cornelio, Eduardo Friedman, João Artur Souza e Dilma Machado. Pronto pro desfecho do nosso papo? Vem comigo! 😉
No post passado, após termos explorado diversos aspectos que diferenciam esses dois campos da tradução audiovisual, chegamos aos dois últimos pontos cruciais para o tradutor audiovisual: a imagem e a forma de lidar com a linguagem.
Diferentemente de outros campos da tradução, a imagem é um aspecto muito forte e presente em todas as modalidades de TAV (tradução audiovisual). No caso da dublagem e da legendagem mais especificamente, ela é vital, pois o que é mostrado na tela precisa se relacionar com o que é dito pelos personagens, ou seja, existe uma retroalimentação constante entre imagem e palavra.
Por conta disso, ao se analisar uma produção dublada, por exemplo, não são somente as questões tradutórias que estão em jogo e que merecem atenção. Além de uma boa tradução e de uma boa adaptação, existe o fator da interpretação dos dubladores, o fator cênico. É extremamente importante que as partes artística e técnica da dublagem sejam bem executadas, para que a produção possa cativar o público na língua de chegada, ao passo que a legendagem, com a tradução inserida na tela, mantém o áudio original.
Outro aspecto fundamental e que causa confusão para muitos é em relação ao manuseio da linguagem em cada um desses segmentos. É importante ter em mente os objetivos e pressupostos envolvidos nessas duas modalidades de tradução, então vamos começar pela dublagem, uma modalidade oral. A tradução para essa área tem como objetivo simular a oralidade; logo, as falas concebidas não podem ser tão presas à língua padrão, algo que costuma ser recorrente na legendagem.
Esse maior zelo pela normatividade da língua e pela norma culta se deve justamente pela legendagem produzir um texto que será lido, e não ouvido pelo público, sendo assim uma modalidade escrita. Mesmo assim, a meta é a de criar, mesmo dentro das limitações impostas, legendas naturais para que o telespectador não estranhe o que estiver escrito.
Para encerrar o post, muitos me perguntam o que eu acho dessa disputa entre esses campos tradutórios. Pessoalmente, considero o embate dublagem x legendagem mais do que saturado. Para mim, tanto uma quanto outra são apenas formas diferentes de se apreciar uma produção audiovisual, sendo que cada modalidade tem suas características, particularidades e, obviamente, são destinadas a seus respectivos públicos.
Não devemos nunca nos esquecer de que, por mais ranço que muitos tenham da dublagem, ela atende públicos que a legendagem não alcança, como os analfabetos, os analfabetos funcionais, os deficientes visuais, as crianças que ainda não foram alfabetizadas ou ainda estão em processo de alfabetização e os idosos que têm um ritmo de leitura menor.
Eu espero que a gente consiga chegar a um momento em que possamos deixar as pessoas assistirem e degustarem de tantos filmes, séries, documentários, desenhos ou o que for da forma que preferirem e sem qualquer julgamento. Cada pessoa tem suas vontades individuais e que devem ser respeitadas. Afinal, se um telespectador quiser usar as produções para melhorar seu conhecimento numa língua estrangeira, é provável que ele prefira a legendagem. Agora se ele quiser só ouvir a produção enquanto faz alguma outra coisa ou até mesmo estiver cansado e quiser apenas apreciar um filme sem ter que ler as legendas, ele tem a opção dublada à disposição. Qual é o problema nisso?
Pessoalmente, acredito que a tradução, independentemente do segmento, sempre nos proporciona experiências distintas. Não vou (e acho que nem posso) dizer que assistir a uma produção legendada e dublada dá na mesma, porque não dá. A questão é o que eu busco como telespectador ao assistir aquela produção. Se eu, Paulo, posso assistir a uma produção no original, mas desejo vê-la dublada, eu estou me permitindo ter uma outra experiência e que, sinceramente, não acredito ser menos digna do que vê-la em seu idioma original. Não é questão de melhor ou pior. É apenas diferente.
Espero que tenha gostado da segunda parte sobre esse assunto tão debatido no mundo da tradução audiovisual e, por favor, fique à vontade para deixar o seu comentário. Um grande abraço e até o próximo post! 😉
José Luiz Corrêa da Silva
25 de março de 2018Excelente texto, bastante elucidativo e complementar ao primeiro post. Muito legal o fato de você estar chamando a atenção das pessoas para o trabalho, normalmente, invisível dos tradutores nesse contexto. Depois que fiquei sabendo mais desse trabalho, passei a assistir mais a filmes dublados e prestar atenção nas falas e tentar identificar nas soluções tradutórias onde o tradutor pode ter tido problema em relação ao texto de partida. Não falo em original, pois tenho ressalvas em relação a esse conceito. Parabéns pelo seu texto.
Katia Ganges
25 de abril de 2018Muito bom esse texto sobre dublagem e legendagem. Eu mesmo tinha ranço com a dublagem, mas era ela que me ajudava a entender os desenhos quando pequena. Depois da alfabetização, comecei a ver filmes e desenhos com legenda, o que ajudou no aprendizado de outros idiomas. Muito agradecida por um texto tão bom e que explicita tão bem o melhor de cada modalidade. 🙂
Paulo Noriega
26 de abril de 2018Katia, fico muito feliz pelo meu post ter esclarecido essa questão pra você. Não tem como negar que a dublagem fez parte da vida de muita gente e ainda faz também, por mais que muitos fechem os olhos pra isso. O importante é haver respeito e saber que cada uma tem seu espaço e o seu público, não é verdade? Grande abraço! =)
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