O primeiro guest post do ano aqui no Traduzindo a Dublagem vem lááá do outro lado do oceano, mais precisamente, de um país que tem sua dublagem internacionalmente reconhecida e com um grande legado: a Itália. Quer saber quem é a responsável por esse relato tão especial? Então chega mais! 😉
Minha convidada especial da vez é Ilaria Mutti, tradutora profissional nas áreas da tradução técnica e audiovisual desde 2011. Em 2016, ela passou a trabalhar com tradução para adaptação realizada pelos adaptadores/dialoguistas italianos na área de dublagem, e é responsável pela tradução de séries, desenhos animados e filmes para TV e cinema.
Inspirada por um dos posts passados aqui do Traduzindo a Dublagem sobre a figura do adaptador, a Ilaria se inspirou e preparou esse relato para o blog, contando mais sobre o universo da tradução e da adaptação em terras italianas. Aproveite a leitura, um grande abraço e até o próximo post! 😉
“Depois do interessantíssimo post do Paulo sobre a figura do adaptador, gostaria de trazer a minha contribuição sobre esse tema, tratando um pouco dessa figura na minha realidade, que é a italiana.
Como já comentado pelo Paulo, existem dois papéis diferentes no universo da dublagem: o tradutor e o adaptador. Na teoria, essas duas figuras são bem distintas; na prática, um pouco menos. Teoricamente, o tradutor se ocupa “somente” com a tradução dos diálogos, sem se preocupar com todas as questões técnicas e culturais. A segunda parte do trabalho, ou seja, tudo que tenha a ver com o sincronismo, a duração das falas, as adaptações à cultura, etc, fazem parte do papel do adaptador.
Sendo assim, por que essa questão da diferença vista entre a teoria e a prática? Porque, na verdade, nem sempre esses papéis são bem distintos: alguns tradutores são também adaptadores e vice-versa; outros mesmo não sendo tradutores, mas tendo um bom conhecimento da língua já fazem tradução e adaptação ao mesmo tempo; outras vezes ainda o material é enviado ao adaptador já traduzido pela própria distribuidora e assim por diante, ou seja, temos 50 tons de adaptador, por assim dizer. 😉
Na Itália, a figura do adaptador é regulamentada por um contrato nacional que se aplica a todas aquelas profissões envolvidas na edição italiana de um produto audiovisual, tanto na dublagem, como na transposição linguística, etc. É possível encontrar o texto desse contrato no site da AIDAC (Associação Italiana de Dialoguistas Adaptadores Cinetelevisivos), uma associação que, desde 1976, reúne os autores dos diálogos das obras de televisão e cinema apresentadas em italiano (http://www.aidac.it/images/pdf/ccnl.pdf).
O interessante é que nesse contrato são minuciosamente abordados todos os aspectos da edição italiana de um produto, desde as fases de produção, aos símbolos e abreviações usados em um texto adaptado e preparado para a sala de dublagem e até aos turnos dos dubladores. Ainda é possível observar que o valor pago aos adaptadores é tabelado e varia muito conforme o tipo de produto (o valor de um filme de cinema, obviamente, é maior do que o de uma novela).
Contrariamente ao que acontece no Brasil, o valor da tradução e da adaptação não é pago separadamente; por isso, quando um adaptador (ou melhor, “dialoguista”) escolhe usufruir dos serviços de um tradutor para a primeira fase do trabalho, o valor vai ter que sair do bolso dele. Além disso, os valores podem ser pagos em minutos, mas quando se trata de tradução para dublagem, o valor é pago por “rolo” de 10 minutos.
Mas, peraí… rolo? Sim! Nós italianos, tão românticos, gostamos dos bons tempos em que os filmes eram gravados em rolos de película, que duravam 10 minutos cada, e é daí que surgiu (e permaneceu) a unidade. Um aspecto um pouco triste também é que o nome do tradutor não aparece nos créditos, somente o do adaptador… Essas são algumas informações adicionais sobre a tradução para a dublagem na Itália que eu gostaria de compartilhar, mas uma pergunta que o Paulo me fez em uma das nossas conversas e que não posso deixar de responder é: “Como você foi parar na Itália?”.
Na verdade, o meu caso foi como uma “volta pra casa”. Sou italiana, de uma cidadezinha (2000 pessoas… um vilarejo!) na área de Milão, e as línguas estrangeiras, assim como a tradução, sempre fizeram parte do meu percurso, de uma forma ou de outra. Sempre tive vontade de ir além, literalmente e, em 2011, foi o que eu fiz de verdade: me mudei para o Brasil! Essa mudança foi o começo da minha carreira profissional com os idiomas. Comecei como professora e, aos poucos, abri meu caminho no mundo da tradução.
Em 2016, outra reviravolta: me mudei de volta para a Itália com mais três companheiros de viagem (meu esposo, meu bebê e minha gatinha!) e, conversando com um amigo de longa data que é dublador e adaptador, ele me perguntou: “Você traduz do espanhol também?”. Assim começou meu caminho no maravilhoso mundo da tradução para a adaptação na área de dublagem: até agora tenho traduzido séries, desenhos animados e filmes para a TV e para o cinema.
Estou loucamente apaixonada por essa profissão, e me inscrevi em uma Pós-graduação em tradução audiovisual pela Universidade de Cádiz, na Espanha, porque quero evoluir ainda mais. Quem sabe, um dia, eu consiga ver na tela: “Dialoghi italiani – Ilaria Mutti”? Boa sorte pra mim!”
Iris Marques Urbinati
16 de fevereiro de 2018Muito orgulho de haver sido sua aluna. Certeza de que a verei brilhar cada vez mais. Sua inteligencia e seu empenho sao incontestaveis e esses fatores a levarao para frente e para o alto, onde merece estar… Sucesso, minha querida Professora …
Paulo Noriega
18 de fevereiro de 2018=)))
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