Nunca me esqueço da minha primeira visita a um estúdio de dublagem. Parece que foi ontem, e também me lembro muito bem de como eu estava empolgado e tenso ao mesmo tempo. Afinal, dar a cara a tapa é difícil, não é mesmo? Mesmo assim, lá fui eu, em algum momento do segundo semestre de 2012, ano em que comecei a trabalhar oficialmente como tradutor para dublagem.
Obviamente, eu já havia agendado a visita com a produção do estúdio, já que o “entra e sai” dos funcionários internos e, principalmente dos dubladores, é bastante rigoroso, então não é de bom tom aparecer de surpresa. Eu tinha acabado de traduzir três episódios de uma série médica e já havia feito anteriormente meu primeiro trabalho, a tradução de uma espécie de reality para o canal Viva. Diante disso, achei que já era o momento de começar a receber algum feedback dos diretores do estúdio em questão.
Ao chegar lá no dia marcado, conheci o diretor José Santana, que até já teve uma entrevista postada aqui no blog, inclusive. Ele era o responsável pela direção da série médica que ajudei a traduzir e estava dirigindo um dos episódios traduzidos por mim justamente naquele dia. Fiquei muito feliz quando ele disse que minha tradução, no geral, estava boa para um tradutor iniciante no ramo.
Além disso, aproveitou a minha presença para me passar altas dicas e sacadas que uso até hoje. Ele acabou dirigindo muitas outras produções traduzidas por mim, e o nosso laço profissional foi aumentando cada vez mais. Por fim, nossa parceria teve o seu auge quando traduzi boa parte das três temporadas da série Flashpoint em 2013.
Como disse no começo desse post, dar a cara a tapa não é fácil e assusta, ainda mais quando se está começando nesse ramo. No entanto, não tem jeito, pois caso você esteja realizando um mau trabalho, as reclamações chegarão mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou de outro. Para evitar que dispensem o seu trabalho, é muito melhor que o tradutor vá aos estúdios e ouça o que os diretores têm a dizer, pois esse contato possibilita que o tradutor melhore o que precisa ser melhorado. É preferível ouvir um feedback direto deles do que esperar a produção geral do estúdio dispensar de vez o seu trabalho ou não mandar mais nada sem dar qualquer motivo.
Aprendi que trabalho em equipe é essencial para uma boa dublagem, e sempre bato nessa tecla. Uma boa parceria entre o tradutor para dublagem e o diretor que lida com suas traduções só pode render bons frutos. Foi assim com todos os diretores de dublagem com quem trabalhei, tendo como o caso mais recente, a tradução da primeira temporada do desenho Thunderbirds, produção dirigida pelo diretor de dublagem, Marcelo Garcia.
Sempre tive muita sorte de ter encontrado diretores de dublagem receptivos e, com a ajuda de cada um deles, sempre fui aprendendo cada vez mais. Querendo ou não, o cargo do tradutor para dublagem acaba se tornando um cargo de confiança, e é importante que se estabeleça essa relação de confiança entre esses dois profissionais. Dessa forma, o diretor poderá confiar na seriedade do seu trabalho e dirigir mais tranquilamente, pois sabe que tem um parceiro bom e competente a seu lado.
Enfim, a ida dos tradutores aos estúdios é essencial, não só para receber o feedback dos diretores, como também para ver suas traduções ganhando vida nas vozes dos dubladores. É lá onde o tradutor verá os pontos fortes de sua tradução e o que ainda pode ser aperfeiçoado. Ver como os dubladores usam e encaram o texto traduzido faz com que o tradutor tenha novas sacadas que possam vir a ser utilizadas em projetos futuros. Em suma, essa vivência de dublagem e de estúdio é fundamental para o tradutor dessa modalidade alcançar um patamar de excelência.
Por isso, deixo minha mensagem final a você, aspirante a tradutor que pretende ingressar nesse ramo: após realizar seus primeiros trabalhos, deixe algum dia livre na agenda, e marque de ir ao estúdio para acompanhar a dublagem de uma produção traduzida por você.
Firme parcerias com os diretores dos estúdios para os quais você venha a trabalhar e sempre se mostre solícito. No fim, quem sai ganhando não sou eu, nem você, nem o diretor e nem os dubladores, e sim o grande público que vai poder assistir a uma dublagem de qualidade com o padrão brasileiro de excelência. 😉 Até o próximo post!
Ligia Ribeiro
15 de julho de 2016Oi, Paulo.
Excelente artigo! É isso mesmo, a parceria é importante porque há um melhor entrosamento entre o tradutor e o cliente (estúdio). Como você disse, você pode pegar dicas incríveis para os próximos projetos obter retorno do seus trabalhos. E com relação ao feedback, é preciso estar aberto a receber tanto os elogios como as críticas. Tenho visto algumas pessoas que não recebem bem o feedback negativo, que na realidade é mais construtivo. Não sabem como é importante.
Bjs.
Ligia
LUCIANA FRIAS
15 de julho de 2016Oi, Paulo
Adorei o post! É muito bom entender melhor esse mercado que está em franca expansão! Acho que a parceria deve funcionar não só na tradução para dublagem, mas em qualquer área da tradução. É o que venho buscando por aí: parceiros 🙂
E construindo a comunidade de tradução.
Luciana
pfcnoriega
15 de julho de 2016Luciana, muito obrigado pelo seu prestígio =) Sim, boas parcerias sempre dão bons frutos, não é? É o que devemos buscar sempre! Grande beijo.
Mário Menezes
23 de janeiro de 2017Maravilhoso! Exato, perfeito, irretocável.
pfcnoriega
24 de janeiro de 2017Obrigado, Mário! 😉 Reforçando essa ideia adiante que só tem a beneficiar o produto e aos telespectadores. Grande abraço e obrigado por suas lições! =)
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