“Mas que título de filme é esse? Onde o tradutor estava com a cabeça quando criou esse título? Não tem nada a ver com o título original do filme!” Em algum momento, aposto que você, assim como eu, já disse ou já proferiu pelo menos alguma dessas frases. A escolha dos títulos das mais diversas produções audiovisuais ainda costuma ser um assunto bastante recorrente nas rodas de amigos e até mesmo no próprio âmbito tradutório. A verdade é que até hoje, muitos não sabem como ocorre essa escolha, e é sobre isso que vamos conversar hoje.
Respondendo uma das perguntas acima, na maioria das vezes, o tradutor não estava com a cabeça em lugar nenhum, pois acredito que, em 98% do casos, não é ele quem decide os títulos (principalmente os de filmes que vão para o cinema). Observando as produções que tive de traduzir ao longo do tempo e sempre conversando com meus colegas de profissão, o padrão é o cliente enviar a produção a ser traduzida já com o título determinado.
Nos casos dos títulos de longas que são exibidos no cinema (e muitas vezes são os que costumam chamar mais a atenção do público), esses são elaborados pela equipe de marketing. Quando a equipe julga que a tradução literal não vai funcionar, ela tenta, na medida do possível, criar um título que atraia a atenção do público brasileiro e que tenha apelo junto a ele.
De modo geral, temos três tipos de abordagem na criação de títulos aqui no Brasil: os que são traduzidos ao pé da letra (tradução literal), os que são completamente adaptados e aqueles casos famosos em que se agrega apenas um subtítulo como no filme Forrest Gump, que em português virou Forrest Gump: o contador de histórias.
No entanto, para televisão e outras plataformas como a Netflix, por exemplo, seria mentira dizer que sempre o título já chega estabelecido para o tradutor, tanto que há casos em que se escolhe até pela não-tradução dos títulos. Um exemplo é o da série Brothers and Sisters, em que fui um dos principais tradutores e que não ficou Irmãos e Irmãs, como em Portugal.
Já quando se opta pela tradução/adaptação do título de uma produção, mesmo não sendo comum, há casos em que pode-se solicitar sugestões para o tradutor. Nessas situações, o padrão é o tradutor enviar três opções, em ordem de preferência, e justificar o motivo da escolha de cada uma delas. Passei por isso no último filme que traduzi, em que chegaram até a enviar um arquivo separado em excel para colocar as três sugestões e justificativas. Vale lembrar que o cliente não escolherá necessariamente alguma das suas opções. Em caso de refutação das três, o comum é ele mesmo escolher a tradução final do título da produção em questão.
Entretanto, uma observação importante se faz necessária: é preciso saber se a produção que será traduzida não se trata de uma redublagem, um fenômeno que está ficando cada vez mais comum na dublagem brasileira. E por que é importante saber disso? Porque em casos assim, já existe uma tradução de título anterior e é necessário avisar ao cliente, pois ele pode querer manter esse título.
Para encerrar, nada melhor do que exemplificar, não é verdade? Há pelo menos três projetos nos quais trabalhei sugerindo títulos e em que uma das opções enviadas por mim foi aprovada. A opção escolhida pelo cliente você confere abaixo. 😉 Até o próximo post!
Ligia Ribeiro
1 de julho de 2016Oi,Paulo.
Parabéns pelo artigo. Também tinha dúvidas quanto à tradução dos títulos. E sempre queria saber o porquê dos títulos, às vezes, serem tão diferentes do original. Obrigada por compartilhar essas informações.
pfcnoriega
1 de julho de 2016Estamos aí pra isso, Ligia. Continue ligada aqui 😉 Beijo e até semana que vem!
Guga Almeida
1 de março de 2017o grande público desconhece a figura dos clientes/produtores e do seu poder de decisão, com isso, a culpa recai sobre as figuras mais notadas…. Diretores, dubladores e tradutores.
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