Há pelo menos meio século, a dublagem chegou em terras brasileiras e fez parte da vida e da infância de muitos brasileiros, principalmente na época da TV aberta, lembra? No entanto, com o passar dos anos, a opção do áudio dublado na grade da TV fechada tem sido cada vez mais frequente. Mesmo antes de me tornar tradutor atuante nesse segmento, fui observando não só essa, como também outras mudanças que dizem respeito ao modo como o brasileiro e o mercado como um todo vêm reagindo a esse aumento das produções dubladas no Brasil.
Diante desse panorama e no que concerne ao campo da tradução para dublagem, muitos ainda me abordam e perguntam se realmente o mercado tradutório do ramo está em ascensão como dizem por aí. Desde já, digo que a resposta é um sonoro: “siiim!” Mas Paulo, então qual é o intuito do seu post se você já respondeu a pergunta? E eu te respondo, meu caro leitor: é justamente apontar e destrinchar os principais indicadores que vêm chamando a minha atenção nos últimos tempos para afirmar que a versão brasileira não só veio para ficar como que, a cada ano que passa, ganha um maior papel de destaque em nosso país.
A verdade é que nunca se dublou tanto na história do Brasil como nos últimos anos, e o aumento da demanda de serviços nos principais estúdios do Rio de Janeiro e São Paulo (eixo principal de dublagem) aumentou consideravelmente. Por consequência, com a maior efervescência desse setor, criou-se a necessidade de mais profissionais capacitados, conscientes e aptos a exercerem os principais cargos presentes na cadeia de dublagem como operadores de áudio, diretores, dubladores e, obviamente, tradutores. Não podíamos ficar de fora, não é? 😉
Para poder refletir a mudança e o comportamento dos brasileiros em relação à dublagem, nada melhor do que falar em números, não é ? Vou deixar esse infográfico do Datafolha falar por si só e mostrar como a dublagem já se faz presente nas mais diversas mídias, mostrando o reflexo do aumento da demanda que já citei anteriormente.
Contemplando desde o cinema até as mídias físicas como DVD e Blu-ray, constata-se como a dublagem está ainda mais presente na vida dos brasileiros. Apesar de falar de forma mais aprofundada abaixo, gostaria de já dizer que nem mesmo a TV fechada é capaz de absorver e dublar os mais diversos filmes, séries e animações que são produzidos no exterior e que desejam vir para o nosso território.
Uma nova morada para todas essas produções tem sido os serviços de streaming on-line, sendo a Netflix a principal expoente desse fenômeno. Caso ainda não tenha reparado, vá agora nas produções disponíveis no catálogo e observe como já é muito comum a opção de áudio dublado sendo oferecida. Agora sem mais delongas, apresento de forma mais destrinchada os quatro principais sinais que demonstram o aquecimento do segmento da dublagem:
1) Dublagem dos principais lançamentos cinematográficos
A saga Harry Potter, as trilogias O Hobbit e Jogos vorazes, e os quatro filmes da saga Crepúsculo são apenas alguns exemplos de filmes super aguardados e de grandes sucessos de bilheteria que chegaram aos cinemas já com versões dubladas. Caso não tenha se atentado a isso ainda, vá ao cinema mais próximo e comece a reparar no número de sessões dubladas dos principais Blockbusters. As animações, por exemplo, dominam as salas de cinema e, hoje em dia, há poucos horários para sessões legendadas.
No que diz respeito aos estúdios, acho que o principal sinal foi quando a Delart-Rio, um dos principais estúdios de dublagem do país, precisou criar a Delart Cine apenas para se dedicar à dublagem dos principais longas estrangeiros. Para poder ilustrar minimamente o que estou dizendo, veja o infográfico abaixo de 2015 e confira o poder da versão brasileiras nas telonas.
2) Aumento da programação dublada nos canais da TV fechada por assinatura
Principalmente por conta da Lei nº12.485 de 2011 que determinou cotas de canais e conteúdos nacionais nos pacotes das operadoras, houve um aumento na programação dos canais que antes só ofereciam programação legendada. Devido a uma ascensão sócio-econômica das classes C e D, já se constatou que houve um crescimento da base de assinantes das operadoras de TV paga. Em minhas pesquisas vi que, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), no final do 1ºsemestre de 2013, a base de assinantes no Brasil já era quase de 17 milhões! E detalhe: em 2002 eram apenas 3,2 milhões.
Sentiu a diferença? Esse novo público já demonstrou uma preferência por conteúdos dublados, o que fez com que os canais apostassem mais nessa opção. Em resumo, com o advento da nova lei da TV por assinatura e a ascensão das classes C e D (já acostumadas com dublagem), as programadoras passaram a apostar na modalidade irmã da legendagem para aumentar seus índices de audiência.
Para dar um bom exemplo, temos os canais Telecine (pipoca, cult, action, touch…). Todos, sem exceção, oferecem atualmente as duas opções de áudio, dublado e legendado, sendo que o Touch, o Action e o Fun têm o áudio em português como padrão. Os números não mentem: em 2013, o Telecine Action foi o canal de filmes que mais cresceu na TV paga e, em relação a 2011, ganhou 41% de audiência no horário nobre.
Alguns canais foram mais além e já chegaram ao ponto de ter 100% de sua grade completamente dublada como TNT, TCM e Viva. Agora, por mais que muitos neguem, é mentira alegar que os assinantes das classes A e B não recorrem a produções dubladas também, mesmo que por outro motivo: a comodidade. Para esse público especificamente, com o áudio dublado, é possível saber o que está acontecendo em seu programa favorito, enquanto navegam na internet ou respondem as mensagens de seus smartphones.
3) Investimento em dublagem nas empresas/agências que antes só trabalhavam com legendagem
Empresas renomadas e respeitadas no ramo de legendagem como Bravo Estúdios e Drei Marc (ambas sediadas no Rio de Janeiro), por exemplo, incorporaram dublagem à sua cartela de serviços. Em uma entrevista, Marcelo Camargo, diretor de atendimento da Drei Marc, disse o seguinte: “A dublagem é uma realidade em diversos canais pagos, a meu ver, irreversível. Grande parte dos assinantes da classe C é muito familiarizada com a TV aberta e apresenta menor rejeição ao conteúdo dublado.”
Em relação às classes A e B, Marcelo continua: “Se a dublagem corresponder às expectativas, eles não vão mudar de canal. Esse perfil é, por natureza, muito exigente e espera uma dublagem de qualidade.” E realmente, se você parar para pesquisar, são raros os estúdios que não oferecem dublagem atualmente e, como já prestei serviços para algumas empresas que se enquadram nesse perfil, deu para sentir que se trata de uma tendência crescente, e não de uma moda passageira.
4) Aumento dos serviços de streaming on-line que oferecem opção de áudio dublado
Por último, mas não menos importante, boa parte das pessoas ao meu redor não conseguem mais viver sem a Netflix. Caso nunca tenha ouvido falar (francamente, onde você estava??!), a Netflix é uma empresa que oferece um extenso catálogo de filmes, desenhos, seriados, documentários, enfim, uma lista imensa de produções audiovisuais via streaming on-line. E o melhor de tudo é que a maioria do catálogo está dublado e, mesmo o que não ganhou dublagem a princípio, há a previsão de que ganhará futuramente.
Além dela, tem a Amazon Prime Video, o serviço de streaming da Amazon (sim, agora temos a “Netflix da Amazon”) que chegou oficialmente ao Brasil no final do ano passado. A Amazon já oferecia esse serviço nos EUA há um certo tempo e admito que eu desconhecia sua existência, e passei a conhecer da melhor forma possível: traduzindo conteúdo dublado que estará presente no catálogo.
Ao que tudo indica, serviços de streaming, a exemplo da Netflix e da Amazon, são mais uma fonte de trabalho para todos os profissionais da cadeia de dublagem. Quem sabe os futuros que podem vir a surgir?
É isso, meu querido leitor. Espero que tenha gostado deste primeiro post de 2017 e que fique sempre por aqui! Para você que acompanhou o blog no ano passado, fique ligado nas novidades que vão rolar por aqui ao longo do ano. Vou continuar firme e forte trazendo novos conteúdos sobre o mundo da dublagem e da tradução para dublagem, e conto com a sua ajuda e participação para termos mais um ano repleto de conhecimento.
Faça suas projeções para este ano que acabou de começar e, depois de ter lido este post, quem sabe uma delas não seja você agora se tornar um tradutor para dublagem? Não deixe de deixar seu comentário, um grande abraço e, como sempre, até o próximo post! 😉
Principal fonte de consulta: Versão brasileira: Canais de TV por assinatura oferecem mais conteúdos dublados para atrair novo perfil de telespectador, por Flávia D’Angelo
Ligia Ribeiro
7 de janeiro de 2017Oi, Paulo. Excelente. E um detalhe é interessante. Eu assisto a vários filmes, séries e desenhos, tanto dublados como nas versões originais. Na realidade, quando gosto de um filme, o revejo várias vezes. Um exemplo bom disso é o Jurassic Park. Acho que já o assisti umas 12 ou 13 vezes. E, se assisto primeiro a versão dublada (por exemplo, as séries NCIS, CSI, Hawaii 5.0, etc.), fica difícil aceitar a original, pois as vozes já não são mais as mesmas. Gosto muito da tradução para dublagem.
pfcnoriega
7 de janeiro de 2017A dublagem tem mesmo esse lado sentimental e do apego às vozes mesmo, Ligia. Tem toda razão. 😉 E é importante ver o legendado e o dublado, porque o bom profissional do audiovisual precisa ser flexível, de modo a abrir cada vez mais seus horizontes.
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