Merchandising ou merchan para os íntimos, em uma das acepções do dicionário Houaiss, diz que é “a citação ou aparição de determinada marca, produto ou serviço, sem as características explícitas de anúncio publicitário, em programa de televisão ou de rádio, espetáculo teatral ou cinematográfico etc.” Com certeza, você já deve ter reparado como essa é uma prática extremamente comum em videoclipes, filmes e seriados, por exemplo, correto? É exatamente sobre isso que vamos debater hoje, pois já parou pra pensar como a dublagem lida com essa prática? Será que o merchan é liberado? Vem comigo que eu respondo! 😉
Respondendo logo a pergunta: por via de regra, não! Contudo, todavia, entretanto, há casos e casos e esses variam de acordo com a produção audiovisual e com o cliente. Falando de como a dublagem trata o merchandising, a prática mais utilizada para quando ocorrer alguma aparição ou menção de merchan ao longo do produto dublado é a substituição da marca citada pelo seu nome genérico.
Por exemplo, imagine que um personagem fale assim no original: “Vou tomar uma coca-cola” ou “Vou tomar uma pepsi”. Nesse momento, entra o tradutor que deve traduzir a fala da seguinte forma: “Vou tomar um refrigerante.” Se disserem o nome de uma marca de sabonete conhecida, o tradutor deve colocar apenas “sabonete”; se for o nome de uma marca de cereal, ele deve trocar apenas para “cereal”, e assim por diante.
Entre todos os casos com que me deparei com merchan, pessoalmente, acredito que quando se trata de medicamentos, é preciso ter um cuidado a mais. Quero dizer que, na eventualidade de aparecer a marca de algum medicamento específico, o tradutor precisa saber qual é a natureza dele (principalmente pra não matar o personagem sem querer, né?). É um analgésico, um anti-inflamatório ou um calmante? Dependendo da resposta, é uma das três que ele deverá colocar no lugar do nome comercial, entendeu? 😉
Como nem tudo é sempre preto no branco, há casos mais complexos que podem aparecer para o tradutor. Há vezes em que um diálogo pode girar em torno de uma marca específica, por exemplo. Em outros, a menção de nomes de marcas é importante para compreender um personagem e ajudar no andamento da trama. Para exemplificar, vou contar um caso que aconteceu comigo na tradução de um dos episódios da série Law and Order (Lei e Ordem).
No episódio em questão, os detetives Lupo e Bernard são chamados a uma cena do crime para investigar a morte de uma mulher que foi encontrada morta no meio da rua. A questão dessa cena em particular é que, ao examinarem o cadáver da vítima, eles reparam imediatamente nas marcas das peças de roupa caras que ela usava, entre elas um cinto da Gucci e um blazer da Armani. Ao repararem nisso, ambos chegaram a conclusão de que ela não morava no bairro onde acharam seu corpo. Como fugir de citar os nomes das marcas nesse caso? Realmente não dava para escapar, pois sem mencioná-las, a personagem ficaria descaracterizada. Uma neutralização das marcas comprometeria a cena e soaria muito artificial.
Em situações como essa, consultar o cliente é sempre a melhor opção, e foi o que fiz. Infelizmente, não sei se autorizaram os nomes das marcas na dublagem, mas fiz o que minha intuição mandou. Para encerrar, a recomendação que faço para esses casos é a seguinte: se a neutralização da(s) marca(s) não acarretar em nenhuma consequência para a trama, siga em frente. Caso ocorra o oposto, acionar o estúdio é o mais indicado, pois basta explicar o que está se passando na cena e defender o motivo para manter a(s) marca(s) em questão. Se ele consentir, perfeito! Pode seguir viagem com a cabeça tranquila!
Espero que tenha gostado do assunto de hoje, um grande abraço e até o próximo post! 😉
Ligia Ribeiro
11 de novembro de 2016Oi, Paulo. Maravilha. Ótimo post. Realmente, o uso do merchan precisa ser muito avaliado. Estou traduzindo uma série e nela aparece o nome de um medicamento que é utilizado para combater a dependência de analgésicos e opiáceos, principalmente a heroína. Mas como no caso em questão o uso que se faz dela é como droga, optei por manter o nome.
pfcnoriega
11 de novembro de 2016Que bom que gostou, Ligia. Obrigado por estar sempre por aqui. Beijo grande!
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