Em um dos primeiros posts aqui do blog, quando explorei minuciosamente a figura do tradutor para dublagem, cheguei a falar também brevemente do adaptador. Diante disso, decidi que estava na hora de abordar com mais profundidade o papel desse profissional que existe, de forma muito presente, em diversos países europeus adeptos à dublagem como Itália, Espanha, Alemanha e França. Vamos saber mais a respeito desse profissional? Então vem comigo! 😉

Na cadeia da dublagem europeia, o adaptador, também chamado de adaptateur, na França, ou dialogue writer (escritor de diálogos), é o profissional que vem logo depois do tradutor. Só aí já identificamos uma mudança em comparação ao nosso país, né? No entanto, antes de chegarmos ao adaptador, vamos começar pelo tradutor para dublagem. Como ele costuma proceder na Europa e o que o difere do tradutor brasileiro?

Bom, por lá, o tradutor realiza a chamada rough translation, uma tradução preliminar e de caráter mais bruto, de forma a ser o mais fiel possível ao conteúdo presente nas produções audiovisuais, ou seja, ele não precisa se preocupar com adaptações, por exemplo. Sua função é extrair todas as informações contidas no original exatamente como são, sem se preocupar com labiais, nem com o tamanho das falas. Obviamente, esse profissional precisa ter um exímio domínio da língua estrangeira da qual estiver traduzindo, para que nenhuma informação escape e possa ser transmitida com o máximo de precisão.

Pois bem! Após a etapa da tradução, aí sim o texto produzido passa para as mãos do adaptador, que será responsável por se preocupar com os aspectos não contemplados pelo tradutor, como o sincronismo, a estimativa do tamanho das falas e, principalmente, com a “soltura” do texto. Em outras palavras, ele adequará o texto traduzido às principais questões técnicas e de oralidade inerentes à dublagem, de modo que se chegue a um resultado de excelência. Para esse profissional, diferentemente do tradutor, ele precisa ter pleno e total domínio da língua de chegada, ou seja, da sua língua nativa.

O adaptador é uma peça fundamental para o êxito das dublagens em vários países da Europa

Uma observação importante e necessária é que, justamente por serem funções distintas e realizadas por profissionais distintos, obviamente, as remunerações são distintas. “Mas, Paulo, um mesmo profissional pode ser tradutor e adaptador?” Apesar de ainda não ser muito comum, é algo possível sim, e, logicamente, ele será pago por ambas as funções.

Voltando para a forma como realizamos a dublagem brasileira, é interessante notar que, mesmo em seus primórdios, a figura do adaptador não foi incorporada ao nosso modelo. E no que isso acabou acarretando? Ao fato de o tradutor assumir ambas as funções, ou seja, ele deve se preocupar com todas as questões linguísticas e técnicas referentes à dublagem e dominar a língua-fonte e a língua-alvo. Contudo, mesmo realizando o papel de tradutor e adaptador, o tradutor para dublagem brasileiro recebe apenas por uma função, que funciona como duas em uma.

Para encerrar o post, nada melhor do que exemplificar, né? Como na Europa, esse modelo tradutor/adaptador é muito comum, ao se observar as cartelas de dublagem de certas produções, como as da Netflix, podemos ver essa distinção. Na próxima série, filme, desenho ou o que for, fica de olho nas cartelas de dublagem, combinado? 😉 Para ilustrar, peguei uma imagem da cartela de créditos da dublagem de um episódio do desenho Voltron: o defensor lendário, da Dreamworks, traduzido por mim. Repare o que acontece na nossa cartela brasileira:

Cartela da versão brasileira da animação Voltron: o defensor lendário

Viu só? Aqui no Brasil, eu acabo sendo creditado duas vezes por exercer ambas as funções, mas vale lembrar que a nomenclatura que usamos aqui é apenas a de tradutor para dublagem, já que o cargo de adaptador inexiste oficialmente. Não vamos confundir, tá bom? Traduzir e adaptar são grandes desafios, não importa a modalidade tradutória, mas que são desafios muito gostosos, isso eu garanto!

E aí? Gostou do post de hoje? Já sabia dessa curiosidade? Quer continuar a interação? Então não se esqueça de deixar o seu comentário. Um grande abraço e, como sempre, até o próximo post! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

2 Comentários

Wilson

6 de outubro de 2017

Muito esclarecedor! Não conhecia o papel do adaptador.

    Paulo Noriega

    7 de outubro de 2017

    Que bom que o post te trouxe esse conhecimento, Wilson! =) Fico feliz!

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