A entrevistada deste mês de agosto é especial por vários motivos e no mundo da tradução para dublagem praticamente dispensa apresentações.
Além de uma amiga e colega muito querida e com uma carreira vasta como dubladora e tradutora no ramo da dublagem, Dilma Machado tem um currículo extenso: é tradutora, dubladora, cantora e professora de inglês. É especialista em tradução inglês/português pela PUC-Rio e dedica-se há 20 anos aos serviços de tradução e dublagem para as empresas: Deluxe, Delart, Centauro, Alcateia Audiovisual, Cinevideo e Som de Vera Cruz. Já prestou serviços para várias outras empresas como: Bravo, Double Sound, MG Estúdios, SP Telefilmes, Gemini Media, Drei Marc e The Kitchen. Foi palestrante em vários congressos nacionais e internacionais como Proz, Abrates e Media For All. Também atua como tradutora de livros para Ed. Rocco e Ed. Fundamento e é associada da ABRATES. Além disso, é professora da especialização da faculdade PUC-RIO, instituição na qual também leciona há seis anos o curso presencial “Técnicas de Tradução para Dublagem”.
Batemos um papo muito animado e descontraído pelo skype sobre o mercado de tradução para dublagem e sobre um dos principais tópicos referentes a essa modalidade: a capacitação de novos tradutores para atuarem nesse ramo da tradução. Foi uma conversa muito esclarecedora e espero que goste! Deixe seu comentário e até o próximo post! 😉
Paulo Noriega: “Dilma, além de dubladora, você é grande referência na tradução para dublagem. Como foi o começo da sua inserção na parte da tradução desse ramo?”
Dilma Machado: “Comecei as duas coisas juntas. Sempre gostei de dublagem desde criança, tanto é que eu nem sabia que as coisas eram dubladas. Pra mim, o que eu ouvia na televisão eram as vozes verdadeiras de todos aqueles personagens. Não havia os canais fechados direito, era tudo na tv aberta.
Quando eu vim pro Rio de Janeiro, passei a me interessar mais por dublagem, mas atuava como professora de inglês, fazia teatro infantil e deixei a dublagem um pouco de lado, por um tempo. Foi só quando fiquei grávida, que fui fazer um curso com o Alexandre Lippiani. Aí não parei, né? E uma dica que eu sempre dou para quem quer ser dublador: não faça só um curso de dublagem, faça vários! Depois, fiz um curso com o Newton da Matta, que se tornou um amigo meu e eu falo que me formei com ele porque fiz mais de um ano de curso. Depois disso, tive minha primeira chance na Cinevideo, que foi a primeira empresa a me dar trabalho, não só de dublagem como de tradução.
Cheguei lá dizendo que havia feito os cursos do Lippiani e do da Matta e que gostaria de fazer um teste, e quando eu estava indo embora, eu disse que era tradutora também. Só que na época, eu havia feito só o curso de tradução oferecido pelo IBEU, mas tradução de textos, não de dublagem. Eu fui uma tradutora autodidata, assim como boa parte dos meus colegas na época. Não havia curso de tradução para dublagem e até hoje há pouquíssimos cursos, tanto que muitos ainda nem sabem o que é e o que faz um tradutor dessa modalidade.
Enfim, três dias depois, me deram um filme para traduzir e claro que cometi erros, a começar pela fonte que coloquei a fonte errada com as letras erradas (ri). Não haviam me passado instruções, só depois que me passaram um modelo, aí passei a fazer direitinho. O diretor de dublagem desse longa que traduzi, o Francisco José, me escalou pra fazer uma personagem pequena num vozerio, como boa parte dos iniciantes, né? É comum a gente começar fazendo participações pequenas e tal… e aí não parei mais e já se passaram 20 anos.”
Paulo Noriega: “Você mais traduz do que dubla? Se sim, porque ficou mais com a parte da tradução e não tanto com a dublagem em si?”
Dilma Machado: “Na verdade, eu sempre traduzi mais do que dublei, mas não por falta de vontade de dublar mais. É que pra dublar mais, você precisa estar presente nos estúdios. A gente fala: ‘marca presença!’ porque os diretores esquecem mesmo, tem muitos dubladores e muitos iniciantes que também querem uma chance, então a presença nas casas de dublagem é importante.
O engraçado é que estou no ramo há 20 anos, mas sinto que sou uma eterna iniciante, né? Que faz, às vezes, um papel importante aqui e ali, já fiz coisas bem legais, mas que, ao mesmo tempo, não dublo tanto porque não compareço nas empresas como já disse.
Agora como tradutora, o meu trabalho é feito em casa, logo fica muito mais fácil. Não são os diretores de dublagem que passam as traduções, é a empresa, e com isso, fiquei mais conhecida como tradutora do que dubladora. Tem diretores que pensam que eu não dublo mais, mas sempre digo que nunca deixei de dublar (ri). Quando me escalam pra dublar, eu dou o meu jeito e vou, mas há muitas coisas pro tradutor administrar, então acaba complicando um pouco.”
Paulo Noriega: “Dilma, você é uma das principais militantes que nós temos na área da tradução pra dublagem. Qual foi o ponto de partida pra você abraçar essa causa?”
Dilma Machado: “Foi quando em 2004, eu fui fazer especialização na PUC-RIO. De matérias em tradução audiovisual, só existia tradução para legendas de vídeos e para cinema, sendo que o cinema, até hoje, é um mercado muito menor do que o de dublagem e muito restrito. Foi aí que eu perguntei: ‘Por que não oferecem a matéria de tradução para dublagem?’ Me responderam: ‘porque não existe mercado’. Aí eu fui mostrar por A mais B que existe mercado sim! Esse mercado nunca deixou de existir, e dali em diante, eu comecei a ficar instigada por essa questão.
Com o tempo, passei a participar mais ativamente em congressos e percebi que neles não se falava em tradução para dublagem, só se falava em legendagem, praticamente. Até mesmo a audiodescrição, que é mais recente do que a dublagem, ganhou uma projeção e um interesse maior por parte do público.
Quanto mais o tempo passava, mais intrigada eu ficava: ‘Por que não falam sobre a tradução para dublagem? Por que ela não é divulgada?’ Fui a vários congressos no Brasil na época e nada, né? Até que em 2010, surgiu a oportunidade de eu participar do Media For All, um congresso internacional. Mandei minha proposta, que foi aprovada, e depois participei de outras edições como a que teve na Croácia. Depois outros convites chegaram e, aos poucos, com as minhas palestras, eu fui fazendo com que a tradução para dublagem e a dublagem brasileiras ficassem mais reconhecidas. Hoje se fala da dublagem brasileira nos congressos internacionais, mas antes ela nem era citada.
Quando se falava em dublagem, era do português de Portugal. Hoje não, hoje se fala de dublagem brasileira! E obviamente, é uma grande vitória ver que nos últimos anos, a tradução para dublagem vem ganhando mais espaço nos congressos nacionais também. Não vencemos a guerra, mas já ganhamos muitas batalhas. Tem muita gente se interessando pela modalidade, ex-alunos no mercado…Você, por exemplo, um ex-pupilo e um amigo que está abrindo o seu caminho e outros também. Espero ver muitos outros seguindo esse caminho.”
Paulo Noriega: “Dilma, qual você diria que é a sua missão maior? Qual é o seu legado?”
Dilma Machado: “Acredito que o meu legado seja formar novos tradutores e tradutores que queiram se tornar professores para ensinar o que aprenderam. É uma bola de neve boa, né? Tem que ter mais gente dando cursos por aí. No momento, minha meta principal é terminar o meu livro e lançá-lo ainda esse ano. Falta muito pouco agora! Também espero criar um curso que contemple o audiovisual como um todo, continuar com os meus cursos e continuar sempre de porta aberta para quem quiser aprender o que eu sei. Eu quero só passar o que eu sei e não ser a dona da verdade.”
Paulo Noriega: “E por fim, quais são os principais requisitos para alguém se tornar um bom tradutor para dublagem hoje?”
Dilma Machado: “Muita gente chega pra mim e diz: ‘Eu falo inglês muito bem ou qualquer língua estrangeira muito bem e quero traduzir pra dublagem.’ Primeiro, vai fazer um curso de tradução, vai estudar. A tradução pra dublagem é muito marcada por adaptações, mas é óbvio que varia de um projeto pra outro. Contudo, para se adaptar, há mil estratégias e abordagens e você só vai conhecê-las lendo, pesquisando e lendo teóricos. Não dá pra parar de estudar. Outra dica é fazer um curso de dublagem mesmo para ser tradutor dessa modalidade porque aí, você se inteira mais do meio. Peça ajuda aos diretores de dublagem quando já estiver no mercado, agende visitas aos estúdios e troque ideias.
Dedique-se aos estudos e não fique nessa que só por saber uma língua estrangeira, você já sabe traduzir. Você tem que saber português muito bem, se não, não adianta nada. Não vai saber sintaxe, conjugação verbal, nem nada. Antes de saber uma língua estrangeira, tem que conhecer a sua língua. Faça cursos variados de outros assuntos também, tudo agrega ao nosso trabalho. Participe de congressos, pois com as outras áreas, a gente aprende dicas de pesquisa, ferramentas para nos auxiliar… enfim, tudo é válido!”
Letícia de Aquino
19 de agosto de 2016Adorei a entrevista! Parabéns, Paulo! Por favor, continue nos trazendo mais entrevistas enriquecedoras como esta. Estou fazendo curso de tradução para dublagem com a Mabel Cezar e a Rayani Immediato e estou cada vez mais apaixonada pela dublagem. Quero fazer ainda o curso da Dilma e tudo que eu puder fazer para me tornar uma tradutora audioviosual de qualidade. 🙂
pfcnoriega
19 de agosto de 2016Letícia, muito obrigado pelo seu comentário. Fique sempre aqui porque ainda vem muuuuita coisa legal pela frente. Aguarde novidades 😉 Beijo grande!
Letícia de Aquino
19 de agosto de 2016Republicou isso em DOWN THE HILLe comentado:
Entrevista com a dubladora Dilma Machado
Excelente post do tradutor Paulo Noriega. Confere lá!
pfcnoriega
22 de agosto de 2016Muito obrigado por ter republicado a entrevista, Letícia 😉
vivian
19 de agosto de 2016Adorei! Ela é fera mesmo! Também estou fazendo o curso de tradução para dublagem da Mabel e da Rayani, mas quero fazer o da Dilma no futuro! Estou me formando em tradução no Brasillis e estou amando cada vez mais essa (nova para mim) profissão!
Parabéns Paulo!
pfcnoriega
22 de agosto de 2016Que bom que gostou, Vivian! Fique por aqui, pois ainda haverá muitas entrevistas e muitas informações legais sobre esse mundo. Seja bem-vinda a ele!
Laila Compan
19 de agosto de 2016Adorei a entrevista!!!! O primeiro curso de tradução para dublagem que fiz foi com ela, e me arrependo de não ter feito antes. Concordo com tudo o que a Dilma falou!
Ótima entrevista, Paulo!
pfcnoriega
22 de agosto de 2016Que bom que gostou, Laila =) Muito obrigado pelo prestígio e continue sempre por aqui! Beijo grande!
Natália Estrella
16 de setembro de 2016Demorei a descobrir esta entrevista porque ela foi publicada durante as minhas férias.
Adorei, Paulo! Eu sou fã da Dilma e da história dela na tradução e na dublagem. Amei o post!
pfcnoriega
16 de setembro de 2016Que bom que gostou, Natália! Sim, ela é uma inspiração para todos nós s2 Fique ligada aqui que ainda vem muita entrevista bacana pela frente 😉
Joyce
29 de setembro de 2016Sou fã da Dilma!
Ótima entrevista!
pfcnoriega
29 de setembro de 2016Que bom que gostou, Joyce =)
Luiz Souza
18 de fevereiro de 2017Meu sonho é fazer um curso com essa mulher! Todo mundo que já fez elogia. Uma pergunta: à época da entrevista, ela disse que lançaria um livro ainda em 2016. Ele foi lançado? Adoraria comprar um exemplar!
pfcnoriega
18 de fevereiro de 2017Oi, Luiz! Ela é maravilhosa e compra o livro sim, não vai se arrepender. 😉 Olha, segundo ela, a previsão é pra lançar em março, mês que vem.
Luiz Souza
18 de fevereiro de 2017Maneiro! Quando lançar, faz um post pra gente não esquecer haha!
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