O Traduzindo a Dublagem encerra o mês de janeiro trazendo uma entrevista inédita com o primeiro profissional que veio representar a sua classe dentro do universo da dublagem: os operadores de áudio, os braços direitos dos diretores de dublagem no momento das gravações em estúdio.

Trabalhando há 19 anos em um dos principais estúdios de dublagem do Rio de Janeiro, a Cinevideo, Adilson de Oliveira Souza é operador de áudio veterano e sua trajetória profissional se mistura com a própria evolução da nossa dublagem ao longo dos anos. Vamos aprender um pouco mais sobre essa função tão importante? Você não pode perder!

Numa terça-feira, em um de seus breves intervalos, Adilson me recebeu na própria Cinevideo para conversamos um pouco sobre o seu ofício e a sua experiência no ramo da dublagem. Tivemos uma conversa muito agradável e o resultado você confere abaixo. Como sempre, não se esqueça de deixar o seu comentário, viu? Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Adilson de Oliveira Souza

Paulo Noriega: “Adilson, obrigado por me receber! Eu gostaria que você se apresentasse para os leitores do Traduzindo a Dublagem e descrevesse o seu cargo e as suas funções aqui na Cinevideo.”

Adilson de Oliveira: “Meu nome é Adilson de Oliveira Souza e trabalho aqui na Cinevideo há 19 anos como operador de áudio. E o que o operador de áudio faz? Ele capta o áudio bruto dos dubladores durante as gravações no estúdio. O áudio fica gravado no computador e depois esse áudio com as falas dubladas é enviado pro mixador. Nesse momento de gravação, a gente evita que ocorra estalos e ruídos na hora da dublagem, por exemplo, pra que o áudio bruto vá da melhor forma possível pra mixagem. É uma etapa que exige muito cuidado e tem que ser bem-feita. A mixagem vem num momento posterior, mas a função do operador é captar o áudio cru mesmo.”

Paulo Noriega: “E você já trabalhou em outras casas de dublagem exercendo essa função?”

Adilson de Oliveira: “Não, como operador eu sempre trabalhei aqui, mas já fiz outras coisas na vida. Já trabalhei em empresa de filmagem, já fui operador de câmera, caboman, e tal. Quando eu cheguei aqui, a parte de som como um todo eu já dominava, mas precisei entender das particularidades da dublagem, obviamente. Eu trabalhava em uma representante da RTP aqui no Brasil, mas eu já estava cansado e pedi pra sair. Eu já conhecia a Teresa na época, a dona da Cinevideo, aí vim aqui conversar com ela e fiz estágio pra ser operador de áudio e ir aprendendo.”

Paulo Noriega: “Adilson, existe alguma faculdade ou curso técnico que prepare especificamente para a função de operador de áudio?”

Adilson de Oliveira: “Tem, tem sim. Tem faculdades e cursos sim, mas, no meu caso, acabou que foi mais na marra mesmo, eu fui aprendendo com a prática a dominar o que a dublagem exigia. Por exemplo, hoje em dia tem até curso pra aprender a mexer no pro tools, que é usado em praticamente em todos os estúdios de dublagem, tem curso pra tudo.

Como eu já falei, a nossa função é captar o som, então quando você domina a área, você pode atuar em vários segmentos. Você pode atuar na dublagem, em TV, numa rádio captando o som da gravação, é preciso que você entenda a área e o processo como um todo. Depois disso, você aplica esse conhecimento de uma forma mais específica dependendo de onde você atuar, entende? Você vai dominando o que cada segmento exige de você naquela função. O importante é saber o que está fazendo, (ri), o operador precisa saber o que está fazendo pra não cometer nenhuma burrada.”

Paulo Noriega: “Com certeza (ri). Adilson, existe uma dúvida comum a respeito do pro tools. Alguns dizem que ele é apenas um software e outros dizem que ele é um sistema completo que realiza várias funções. Eu queria que você descrevesse com as suas palavras o que é o pro tools e qual é a importância dele para os estúdios de dublagem?”

Adilson de Oliveira: “O pro tools veio pra ajudar muito na parte técnica da dublagem. Ele é um sistema completo porque ele une software e hardware, e dá pra fazer de tudo nele. Tem outros, mas o pro tools acabou caindo no gosto da maioria dos estúdios. Antigamente, o operador realmente tinha que ficar muito, mas muito focado mesmo no trabalho, porque era muito mais braçal do que é hoje na era digital.

Eu cheguei aqui na Cinevideo na época do U-Matic ainda (ri)! Nele, você só tinha dois canais, o canal do original e o canal pra gravar. Quando eu cheguei aqui, os dubladores ainda dublavam juntos na bancada, ou seja, às vezes, tinha sete pessoas pro diretor e o operador ficarem de olho. Ah, e os filtros que tinham nas vozes da produção como os de rádio e televisão, por exemplo, eram feitos na hora mesmo. Eu tinha que ficar ligado pra saber qual botão eu tinha que apertar pra produzir o filtro, não tinha como inserir depois, sabe? Se não fizesse na hora, ia sem filtro na dublagem.”

Paulo Noriega: “Então se piscasse, você perdia a deixa pro filtro, né? (ri)”

Adilson de Oliveira: “Isso mesmo! Piscou, perdeu. A gente tinha que prestar atenção em todos os dubladores ao mesmo tempo, imagina só isso! Hoje cada um dubla separado, como você já sabe. Além disso, o diretor de dublagem ficava dirigindo os dubladores dentro da sala de dublagem, não ficava do meu lado aqui na técnica como é hoje. Eu tinha o meu script comigo pra justamente saber as minhas deixas previamente, eu precisava já saber quando eu ia ter que inserir algum filtro, por exemplo.

O processo foi sendo facilitado com o passar do tempo porque bem no começo, você tinha o rolo do filme mesmo, né? O filme era projetado e tal, aí eu peguei o U-Matic quando comecei a trabalhar na área. Depois veio o DA, o VHS, Super VHS, a tecnologia foi mudando muito, muito mesmo. Passei por muita coisa até o pro tools chegar e te garanto que quem sobreviveu aquela época, domina qualquer coisa hoje em dia (ri).”

Paulo Noriega: “E, por favor, conta pros leitores algumas das funções que o pro tools realiza.”

Adilson de Oliveira: “Ele consegue alterar a voz dos dubladores, botar efeitos se precisar, encurtar ou alongar um pouquinho as falas… Até alguns tipos de emenda a gente consegue fazer. Dá pra fazer muitas coisas mesmo, o pro tools veio pra facilitar muito essa parte técnica. Teve gente que não conseguiu se adequar, né? Não foi todo mundo que conseguiu seguir nesse caminho digital, mas não tem jeito. As coisas vão evoluindo e a gente tem que seguir pra não ficar pra trás.”

Paulo Noriega: “E você sabe dizer se existe alguma tecnologia mais avançada do que o pro tools no mercado atualmente?”

Adilson de Oliveira: “Olha, superior eu não sei dizer, mas existem versões mais recentes do pro tools, porque ele vai sendo atualizado com o tempo, né? Aqui a gente já trabalha com o pro tools 10, mas já existem versões mais recentes, é tipo iphone que tem sei lá quantas versões (ri). Nessa área, a tecnologia vai avançando muito rápido e aonde vai chegar? A gente não sabe (ri). É uma área que praticamente não tem limites, é só você ver que tem dubladores hoje com microfones muito bons, com um bom equipamento e que, quando necessário, dublam de casa mesmo.”

Paulo Noriega: “E pra encerrar, Adilson, que dica você daria para os futuros operadores de áudio que desejam trabalhar especificamente no segmento da dublagem?”

Adilson de Oliveira: “Tem que se empenhar muito pra poder fazer bem esse trabalho, sabe, Paulo? Tem que ser muito centrado e muito atento ao que está sendo feito na hora da gravação. Ele tem que prestar atenção em muitos detalhes porque é um trabalho muito minucioso.

O grande barato também é que a gente está sempre aprendendo alguma coisa nova, não importa quantos anos de profissão você tenha. Eu mesmo sempre descubro coisas novas mexendo no pro tools, e os mixadores também precisam dominar muito bem os recursos que o pro tools oferece.

No fim das contas, é um grande trabalho de equipe, todo mundo sempre aprende alguma coisa. Os operadores, os mixadores, os dubladores e diretores, todos nós aqui dentro do estúdio trocamos muitas informações entre a gente pra que o trabalho sempre saia da melhor forma.”

Eu e Adilson

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

8 Comentários

José Luiz Corrêa da Silva

27 de janeiro de 2018

Muito esclarecedor! Parabéns pela entrevista. Lendo-a dá até vontade de conhecer um estúdio de dublagem daquela época em que o Adilson menciona cheio de profissionais soltando a voz quase que ao meo tempo. Legal! ??

    Paulo Noriega

    28 de janeiro de 2018

    =))

Nica Nogueira

27 de janeiro de 2018

Os operadores são sensacionais. Muitas vezes eles que salvam a dublagem. Ajeitam de cá e de lá e resolvem a vida de quem tá dublando e dirigindo. Meus parabéns ao Adilson e a todos os colegas dele!

    Paulo Noriega

    28 de janeiro de 2018

    São mesmo, Nica! Eu já vi as magias que eles fazem no pro tools e realmente não é pra qualquer um, não. Palmas pra todos os operadores desse Brasil!

Christiano Torreão

27 de janeiro de 2018

Grande amigo e companheiro de trabalho durante anos.
Bela entrevista!

    Paulo Noriega

    28 de janeiro de 2018

    Que bom que gostou, Christiano! =)

Anderson

29 de janeiro de 2018

Um bom profissional, sempre fará por amor sua atividade, sendo tradutor, diretor, dublador, operador , mixador ou revisor.
Parabéns Adilson pelo seu amor pela nossa profissão, que mexe com a imaginação de todos.

    Paulo Noriega

    30 de janeiro de 2018

    Isso é verdade, Anderson! =) Muito bom te ver por aqui!

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