O segundo post da programação especial inteiramente dedicada à tradução no Traduzindo a Dublagem é muito especial. Óbvio que o entrevistado do mês tinha que ser um tradutor para dublagem, né? E é com muito prazer que bati um papo superlegal com um amigo e colega de profissão que pra conseguir encontrar um espacinho na agenda de tanto trabalho é uma lenha! Vamos conferir a entrevista de mais um tradutor para dublagem? Vem comigo!
Meu convidado da vez é Guilherme Ferreira, tradutor audiovisual que, desde 2014, vem traduzindo tanto para a legendagem quanto para dublagem, e que também já deu alguns passos na tradução literária.
Guilherme é formado em Letras/Tradução pela Universidade Estadual de Maringá e, entre suas traduções literárias, estão alguns títulos da série Goosebumps HorrorLand, publicados pela editora Fundamento e os romances Finalmente Você e A Garota de Boston, pela editora nVersos. Após se especializar na tradução audiovisual, entre seus principais trabalhos na legendagem, estão a tradução das séries Cara Gente Branca, Last Tango in Halifax e Skin Wars. No campo da dublagem, traduziu, entre outros trabalhos, o documentário 13ª Emenda, indicado ao Oscar, e as séries Transparent, House of Cards, Hand of God e The Handmaid’s Tale.
Sem mais delongas, segue o nosso bate-papo. Aproveite a leitura e não se esqueça de deixar o seu comentário! Um grande abraço e até o próximo post! 😉
Paulo Noriega: “Guilherme, você sempre quis ser tradutor? Como foi a sua inserção no mundo da tradução?”
Guilherme Ferreira: “Sempre quis ser tradutor! Eu lembro que desde a adolescência, eu já lia livros em inglês na escola. Foi quando me apaixonei pela língua inglesa, né? Inglês era a matéria que eu mais estudava, e me lembro de que um primo meu chegou a conversar comigo sobre faculdades e me falou da profissão de tradutor. Isso quando eu estava ainda na sétima, oitava série, mas já tive aquele estalo, e passei a pesquisar sobre a profissão. Eu queria trabalhar principalmente com legendagem e com literatura desde essa época da escola, e aí o tempo passou, e entrei para a Universidade Estadual de Maringá. Cursei quatro anos de licenciatura em língua inglesa e um ano de bacharelado em tradução.
Eu não me lembro se era Orkut ainda ou se já era Facebook, mas eu vi um anúncio de que a Editora Fundamento estava fazendo testes para novos tradutores. Mandei meu currículo e, muito tempo depois, entraram em contato comigo. Isso foi em 2011 e me mandaram um teste de um capítulo de um livro. Eu passei no teste e aquele foi meu primeiro trabalho de tradução mesmo. Ainda estava na faculdade um pouco cru, mas deu certo. (ri)”
Paulo Noriega: “Guilherme, antes de migrar para a tradução audiovisual, você começou no campo da tradução literária como você mesmo disse. Como foi que se deu essa passagem, essa transição para outro segmento tradutório?”
Guilherme Ferreira: “É, eu traduzi literária e traduzi depois um pouco na área técnica, que realmente não é pra mim. (ri) Só depois que eu fui pro audiovisual. Na verdade, no campo da literatura, eu traduzi 5 livros em um espaço de 4 anos, então não era o meu trabalho principal, não é que eu vivesse disso, entende? Eu trabalhava mesmo dando aulas de inglês.
A migração pra legendagem começou quando eu fiz o curso da Gemini, com a Dafne Baddini como professora e o João Artur como monitor. Depois disso, fiz o curso do João Artur, da ACME, na época. Já o meu primeiro trabalho como tradutor na área de legendas foi meio que por acaso. Teve uma tradutora que não pode pegar a tradução de um filme que um cliente tinha enviado, e ela precisava repassar o trabalho pra alguém. O João Artur passou o meu contato e o de um outro amigo meu pra ela, e nós dois fizemos a tradução para o cliente dela, a Sintagma. Depois continuaram a me mandar mais trabalhos, e aí comecei mesmo a carreira no campo audiovisual.”
Paulo Noriega: “Que legal! Então a legendagem veio antes da dublagem na sua vida?”
Guilherme Ferreira: “Isso mesmo. Eu tinha feito cursos na área de legendagem, como eu disse, e só depois que fiz dois cursos de tradução para dublagem, um com a Dilma Machado e outro com a Patrícia Narvaes, e passei a traduzir nessa área também.”
Paulo Noriega: “E você sente igual prazer em ambas as modalidades de tradução?”
Guilherme Ferreira: “Sinto. Elas são bem diferentes, mas eu gosto muito das duas. Acaba que na legendagem você tem menos liberdade, né? Você tem o número de caracteres ali, o tempo de fala, você tem que resumir muita coisa. Querendo ou não, você tem o áudio original ali, então se tem alguma piada, por exemplo, não pode fugir tanto. Agora na dublagem, o legal é que a gente tem a questão da liberdade, você tem mais liberdade para trocar as coisas, traduzir por algo que funcione melhor em uma certa cena, por exemplo. No fim das contas, fica difícil escolher entre uma e outra. Gosto muito das duas! (ri)”
Paulo Noriega: “E quais foram as principais diferenças que você sentiu ao traduzir literatura e ao traduzir obras audiovisuais? Foi muito estranho sair de uma modalidade tradutória em que não há imagem para te auxiliar e ir para outra em que a imagem é extremamente importante?”
Guilherme Ferreira: “Nossa, é muito diferente, principalmente em relação à questão da liberdade que já mencionei. Pra mim, pelo menos, a literatura é a que você tem mais liberdade. Você pode mudar mais o texto, não tem que se preocupar com labial, com boca, com tamanho ou velocidade de leitura. Entre a tradução literária, a tradução para legendas e a tradução para dublagem, a literária é a que você tem mais liberdade, seguida da dublagem e, por fim, da legendagem.
Além disso, tem a questão do registro também. A literatura e a legendagem têm uma tendência de ir mais pro formal, e a dublagem tende a ir um pouco mais pro informal. Obviamente que cada caso é um caso, e você tem obras e produções de caráter mais formal e mais informal em qualquer uma dessas modalidades. A questão é que a dublagem, justamente por lidar com falas, você consegue uma naturalidade maior, algo que é mais difícil de se ver na tradução literária e na legendagem, modalidades em que ainda existe um zelo maior com as questões linguísticas.”
Paulo Noriega: “Perfeito, Guilherme. Penúltima pergunta: qual é o gênero do audiovisual que você mais gosta de traduzir e por quê?”
Guilherme Ferreira: “Olha, reality show, com certeza, não é o meu favorito. (ri) É um gênero que exige muito, principalmente se for tradução pra dublagem. Eu nunca tinha parado muito pra pensar nisso, (ri), mas eu acredito que gosto mais de traduzir séries.
Diferentemente dos filmes que são mais rápidos, eles vêm e vão, com as séries você tem mais tempo. Você vai conhecendo cada vez mais os personagens, entende? O filme tem princípio, meio e fim. Acabou, e é isso, algo que não acontece nas séries. Nelas, você vai se aprimorando mais e mais, à medida que a história avança. Tem uma série, por exemplo, que eu traduzo chamada Transparent e que eu amo fazer!”
Paulo Noriega: “E você ainda tem algum sonho de traduzir uma produção que lide com alguma temática específica e que você ainda não tenha traduzido?”
Guilherme Ferreira: “Olha, eu gosto muito de filmes de terror e nunca traduzi nenhum. (ri) E amo coisas relacionadas à Broadway, eu amo musicais! Eu já tive a sorte de legendar o musical Billy Elliot. Foi um sonho realizado, mas eu queria traduzir mais coisas com essa temática, porque os musicais são a minha paixão fora da tradução. Traduzir, de repente, algum documentário que fale sobre a Broadway, algo assim. (ri) Além disso, gostaria de traduzir para o cinema um dia. Seria um sonho!”
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