A minha entrevistada especial deste mês de julho ajuda dubladores e todos os outros profissionais que lidam com a voz a darem o seu máximo em seus respectivos trabalhos. Hoje considerada uma das principais fonoaudiólogas do país, minha convidada veio compartilhar um pouco do seu conhecimento e da sua vivência com esses profissionais responsáveis por darem suas vozes a tantos personagens memoráveis na nossa dublagem. Quer saber quem é? Então não perca mais essa entrevista aqui no Traduzindo a Dublagem!

Minha convidada é Luisa Catoira, fonoaudióloga renomada responsável por atender diversos dubladores em seu consultório localizado em Copacabana, além de outros profissionais que usam a voz como instrumento de trabalho como professores, cantores e palestrantes. Conheci o trabalho da Luisa há poucos meses e realizei algumas sessões com ela, com o intuito de aperfeiçoar a minha técnica de tradutor para dublagem, no momento de bater a revisão do meu texto traduzido com o vídeo e tem dado super certo!

Por ter me encantado com o trabalho dela, pedi para ela me conceder uma entrevista falando um pouco sobre o seu trabalho, especialmente junto à comunidade dos dubladores, e o resultado você confere logo abaixo. Não se esqueça de deixar o seu comentário, um grande abraço e até o próximo post! 😉

Luisa Catoira

Paulo Noriega: “Luisa, por favor, eu gostaria que você se apresentasse e contasse um pouco sobre a sua profissão para aqueles que ainda a desconhecem.”

Luisa Catoira: “Eu me chamo Luisa Catoira. Sou fonoaudióloga, formada em 1993, no Rio de Janeiro. Eu trabalho desde 2012 com dubladores, locutores, atores de musicais, cantores e professores, basicamente. E o que todos esses profissionais têm em comum? Todos eles utilizam a voz como instrumento de trabalho, e é meu dever como profissional fazer com que cada um a use da melhor forma possível para poder atingir os seus objetivos.”

Paulo Noriega: “Em relação à sua atuação junto aos dubladores, como a gente sabe, todo dublador é ator, correto? Você se lembra qual foi o primeiro ator que caiu na sua mão e que queria trabalhar questões específicas referentes à dublagem?”

Luisa Catoira: “Me lembro sim! A primeira dubladora que atendi foi Mabel Cezar, uma das dubladoras mais veteranas do mercado brasileiro de dublagem. Depois de atendê-la, ela acabou me indicando para alunos e colegas de trabalho dela, e isso foi incrível pra mim. Foi nesse momento que percebi que eu estava na área que eu amava e que era esse o espaço que eu queria conquistar. Sou muito feliz atendendo essa galera talentosa.”

Paulo Noriega: “Quando você percebeu que estava recebendo mais dubladores no seu consultório, mudou alguma coisa pra você como profissional? Você fez cursos específicos pra tentar entender melhor como a dublagem funciona e passou a procurar e desenvolver novos métodos para os profissionais desse ramo?”

Luisa Catoira: “Com certeza houve mudanças pra mim desde que passei a atender cada vez mais dubladores no meu consultório. Voz é emoção, né? Eu fiz três pós-graduações: em psicomotricidade e psicanálise, motricidade oral e audiologia. Além disso, fiz vários cursos livres como de eletro-estimulação e de exercícios repetidos do trato vocal semi-ocluído. Essa minha formação me deu instrumentos e bagagem para poder trabalhar com os dubladores, pois eles são profissionais muito sensíveis e que precisam ter pregas vocais resistentes, uma boa articulação e também saber como ter apoio na respiração.

Além disso, percebi também que, na verdade, eu precisava inventar uma técnica que resolvesse rapidamente os ajustes que eles vinham buscar na fonoaudiologia. Foi aí que surgiu a técnica RAV (respiração, articulação e voz). Trabalhando o apoio respiratório e a resistência da laringe e aliando a uma ótima articulação, os dubladores têm a tranquilidade de realizar seus trabalhos de forma mais suave e sem ficar com problemas de rouquidão ou de pronunciar palavras de “forma suja” no estúdio durante as gravações. Trabalhando a fonoaudiologia no dia a dia, o dublador não vai ter que pensar nos ajustes que vai fazer, ele só precisa se preocupar em interpretar o personagem que lhe é exigido.”

Para cuidar de tantos talentos, é preciso ter muito preparo!

Paulo Noriega: “Quais são os principais alimentos e hábitos que são aliados da voz? Em contrapartida, quais são os alimentos e hábitos mais nocivos?”

Luisa Catoira: “No dia a dia do dublador, o ideal é que ele não beba leite e nem coma seus derivados com frequência. Além disso, é bom que ele não exagere no café, principalmente antes de gravar, pois tanto ele quanto o leite e seus derivados são alimentos que produzem muco, o que prejudica o desempenho na hora da dublagem.

Já a maçã é um bom alimento adstringente que ajuda a limpar a região da laringe, então uma maçã por dia faz muito bem. Os alimentos cítricos, de forma geral, são ótimos pra limpeza vocal, mas não são mágicos. Manter bons hábitos como exercícios vocais matinais e beber muita água são fundamentais pra que a voz se mantenha limpa e na melhor forma possível.

Quanto a maus hábitos, fumar e beber álcool frequentemente são hábitos péssimos para quem trabalha com a voz. Além disso, quando ocorre choques térmicos entre bebidas, comidas ou ambientes, pode ocasionar edema nas pregas vocais e rouquidão. O problema não está em si no consumo de bebidas quentes ou frias, não é questão de qual é melhor ou pior. Ambas podem ser ingeridas, mas sempre pensando em não chocar as temperaturas! O ideal é ir esfriando ou esquentando a região da laringe antes de passar de um alimento muito quente pra um muito frio, por exemplo.”

Hidratação é fundamental para quem trabalha com a voz

Paulo Noriega: “Luisa, por fim, queria que você deixasse pros leitores do Traduzindo a Dublagem o seu recado sobre a importância da fonoaudiologia para todos os profissionais que lidam com a voz, sejam os atores de TV, de teatro, dubladores, palestrantes, etc…”

Luisa Catoira: “Eu acredito que a fonoaudiologia é muito importante para qualquer profissional que use a voz como instrumento de trabalho. É fundamental cuidar dela, mas muitos não sabem como fazer isso corretamente. Cuidados e hábitos saudáveis, além de exercícios e muita disciplina, são fundamentais para esses profissionais realizarem seu trabalho com excelência, e é aí que entra a fonoaudiologia.

Essa área ensina a toda essa galera como cuidar da voz, como aquecê-la e desaquecê-la, além de passar exercícios para melhorar a articulação, os melhores alimentos e hábitos, e até mesmo quando usar certos medicamentos, caso seja necessário. Enfim, é uma área que se propõe a dar o apoio necessário que esses profissionais precisam no dia a dia. Amo muito o que eu faço, e é preciso muito preparo para lidar com as questões e objetivos pessoais de tantos talentos que chegam ao meu consultório.”

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

4 Comentários

Jorge Desgranges

21 de julho de 2017

Profundamente profissional e pedagógico. A Luísa Catoira esclarece dúvidas e traz informações relevanres, mas desconhecidas ao público em geral. Parabéns!!!

    Paulo Noriega

    21 de julho de 2017

    Jorge, muito obrigado pelas suas palavras, viu? E agradeço muito à Luisa pela entrevista maravilhosa! =)

Guga Almeida

25 de agosto de 2017

Parabéns por mais essa entrevista. A Luisa Catoira, certamente, está entre as profissionais da área da fonoaudiologia que faço questão de ouvir e ler todo e qualquer conteúdo produzido por ela, pois sempre acrescenta conhecimento a nossa trajetória. ótimo trabalho, continue. forte abraço

    Paulo Noriega

    27 de agosto de 2017

    Ela é maravilhosa e, graças a ela, consegui otimizar a parte de revisão das minhas traduções. 😉

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