Como já disse outras vezes aqui no blog, há diversos profissionais atuantes na cadeia da dublagem, desde a chegada dos materiais nos estúdios até o envio das produções totalmente dubladas e mixadas para os clientes. Além dos tradutores, diretores de dublagem e dubladores, ao longo deste ano, realizarei entrevistas com os demais profissionais que também são peças-chave de todo o processo de dublagem, como os operadores de áudio, os mixadores e os responsáveis pela parte de produção e administração interna nos estúdios.
Para começar com chave de ouro, minha entrevistada do mês de março é Vera Corrêa, uma das principais engrenagens de um dos estúdios de dublagem mais antigos e tradicionais do Rio de Janeiro, a Cinevideo. Ao final da entrevista, você saberá um pouco mais sobre ela e a sua importância para que tudo saia nos conformes em uma rotina bem agitada! Espero que goste da entrevista e não se esqueça de deixar o seu comentário. Um grande abraço e até o próximo post! 😉
Paulo Noriega: “Vera, eu gostaria que você se apresentasse em linhas gerais para os leitores do blog e descrevesse o seu cargo e suas funções na Cinevideo.”
Vera Corrêa: “Meu nome é Vera, eu trabalho na Cinevideo e o meu cargo atualmente é de assistente administrativa. Eu trabalho com tudo relacionado à dublagem, desde que chegam as produções até a finalização delas. Recebo todo o material, envio pros tradutores, pros diretores de dublagem e controlo tudo relacionado à dinâmica do processo de dublagem.”
Paulo Noriega: “Há quantos anos você trabalha na Cinevideo e como você veio trabalhar aqui?”
Vera Corrêa: “Em junho, vai fazer 17 anos que eu trabalho na Cinevideo. Eu trabalho aqui desde 2000 e vim trabalhar aqui através de uma indicação de uma amiga.”
Paulo Noriega: “E de modo geral, como costuma ser o seu dia a dia?”
Vera Corrêa: “Olha, o meu dia a dia é muito agitado, principalmente na parte da tarde que é quando eu começo a receber e-mails por causa do fuso horário, e eu preciso resolver várias coisas. Tem épocas que são mais agitadas, tem dias mais agitados, outros mais calmos, mas, em geral, costumam ser agitados.
Paulo Noriega: “E imagino que realmente sejam muitos e-mails e muitos arquivos, né? (ri)”
Vera Corrêa: “Muitos e-mails, muitos arquivos pra serem enviados pros clientes, troca de e-mails com os tradutores, com os diretores de dublagem, com todo mundo.”
Paulo Noriega: “E como costuma ser o seu diálogo, em especial, com os tradutores? Como costuma ser a sua relação com eles?”
Vera Corrêa: “No meu diálogo com os tradutores, eu tendo a ser um pouco dura (ri), mas faz parte da minha função, né? Eu sou cobrada também. Da mesma forma que eu cobro deles, eu sou cobrada e, como os prazos tendem a ser muito curtos hoje em dia, é difícil maneirar um pouco nessa parte da cobrança. Acaba sendo difícil porque eu também sou cobrada, todos são cobrados.
No caso da tradução, como ela é o primeiro passo depois que chega o material no estúdio, atrasando a tradução, tudo que vem depois vai atrasar. Por conta disso, eu preciso ter um prazo pra tradução, um tempo pro diretor assistir ao filme, dublar em estúdio, etc, então se demorar muito na tradução, todo o processo até a finalização acaba ficando comprometido. Obviamente que eu tento entender também, mas, ainda assim, é difícil porque a gente lida com uma dinâmica de trabalho muito acelerada.”
Paulo Noriega: “Com certeza, eu imagino. O ideal é tentar chegar num meio termo, né? Chegar em algo que as duas partes consigam dar conta.”
Vera Corrêa: “Exatamente, exatamente. Eu já sei quais são os nossos tradutores que são mais lentos e que precisam de um pouco mais de tempo, os que são mais rápidos, aqueles com quem eu posso contar até em final de semana, etc. Também a gente tem que ver a disponibilidade deles também, porque muitos não traduzem só pra Cinevideo.
Quando chega alguma série, por exemplo, os prazos são mais acirrados, então o tradutor tem que ter uma disponibilidade maior. Quando é um filme, às vezes, a gente consegue um prazo maior, mas de modo geral, os prazos acabam sendo muito apertados, tudo é muito acelerado.”
Paulo Noriega: “Entendi. Vera, pra encerrar, com base na sua experiência e na sua vivência, que dicas você daria para os futuros tradutores que gostariam de ingressar no ramo da dublagem?
Vera Corrêa: “Como várias pessoas e vários tradutores sabem, eu não tenho conhecimento de inglês. Infelizmente, não fiz curso de inglês, mas pela experiência e por ouvir muito a Teresa, que é tradutora há muitos anos e dona aqui da Cinevideo, ela sempre diz: “O principal pro tradutor é saber português. As concordâncias verbais e as concordâncias nominais acabam vindo com muitos erros, às vezes. Na verdade, o português é muito mais difícil do que o inglês, então quando alguém chega e fala pra mim: “eu quero te indicar um tradutor que morou sei lá quantos anos nos Estados Unidos, tem vivência de inglês, etc…”, isso não diz muita coisa. Pelo tempo que eu estou aqui na empresa e que eu escuto da Teresa e de outros diretores também, o básico do básico é saber bem o português.
No caso da dublagem, como ela é uma adaptação constante da tradução e tem toda uma dinâmica dentro do estúdio, você tem que adaptar, tem que diminuir as frases, tem que aumentar as frases, etc. Infelizmente, ainda ocorrem erros de português, então o tradutor tem que se policiar muito! A dica que eu sempre escuto a Teresa falando é: “Sempre tenha mais atenção ao português!”
Ligia Ribeiro
31 de março de 2017Pena que a entrevista foi tão curta. Adoro ler sobre experiências reais. Parabéns, Paulo.
pfcnoriega
31 de março de 2017Foi mais curtinha por conta de disponibilidade, Ligia… as entrevistas precisam se adequar ao tempo dos entrevistados também. Mas ainda assim, deu pra ter uma boa ideia, né? 😉
Dilma
1 de abril de 2017Vera é mil utilidades na Cinevídeo. Se ela não for carrasca como disse, o trabalho não rende. Eu a admiro muito.
pfcnoriega
1 de abril de 2017Todos nós admiramos, Dilma! 😉 Que bom te ver comentando por aqui. E a Vera foi só o começo, vem muita coisa legal por aí. Beijo grande!
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