Lááá em 2016, escrevi um post aqui no blog abordando a diferença entre a dublagem e o voiceover. Pois bem, agora chegou o tão aguardado momento de traçarmos um paralelo entre as produções dubladas e as legendadas, pois esse é um tópico que ainda traz muitas dúvidas para o público e até mesmo para os tradutores de outros segmentos. O tema desse post contou o apoio e a revisão de colegas e amigos muito queridos, então deixo meus agradecimentos a Eduardo Friedman, Deborah Cornelio, Dilma Machado e João Artur Souza!

Assim como o post escrito dois anos atrás, o objetivo do nosso assunto de hoje não é entrar no mérito de qual modalidade é melhor ou pior, até porque não acredito nisso. Meu propósito é apenas explicar como ambas as modalidades funcionam e suas características, ok? Sem briga, sem estresse, sem o famoso “fla x flu” que você já deve estar acostumado a ler internet afora. Beleza? Beleza. Vem comigo! 😉

Primeiramente, vale lembrar que tanto a tradução para legendas quanto para dublagem se insere no ramo da chamada Tradução Audiovisual (TAV). Como sabemos, a legendagem se caracteriza pela tradução das falas de uma produção em duas linhas que aparecem na tela, sempre com um limite máximo e variável de caracteres permitidos. Essa variação se dá de acordo com a mídia como DVD, Blu ray, o cinema, a TV por assinatura e as queridinhas do momento, as plataformas de streaming on-line como Netflix e Amazon Prime Video, que estão ganhando cada vez mais espaço.

Atrelado a essa questão, chegamos a uma das grandes diferenças entre a legendagem e a dublagem. Enquanto na primeira mantém-se o áudio original e a tradução das falas se dá pelas linhas que surgem na tela, na segunda o áudio original é apagado e substituído por outro regravado pelos dubladores na língua de chegada, no nosso caso, o português do Brasil.

Ainda nesse mérito, enquanto na tradução para legendas, o máximo de conteúdo que pode ser veiculado na tradução é ditado pelo limite de caracteres e pelo tempo de leitura disponível, na dublagem o que rege são as bocas dos personagens. Dessa forma, o conteúdo que será transmitido depende da velocidade com que o dublador consegue reproduzir as falas traduzidas, aspecto técnico de cunho mais subjetivo e que leva um certo tempo até o tradutor desse segmento conseguir dominar.

Se observarmos o lado econômico, é inquestionável que a dublagem é mais custosa do que a legendagem, já que é preciso orçar o valor de todos os envolvidos como o tradutor, o diretor de dublagem, os dubladores escalados, o operador de áudio e o mixador. São diversos profissionais envolvidos em etapas distintas e que levam tempo.

A dublagem de uma produção, dependendo da dificuldade e do número de dubladores necessários para serem escalados, pode levar mais de uma semana para se chegar a um resultado satisfatório. Não é brinquedo, não. 😉 Entretanto, mesmo apesar do custo, é inegável que vem acontecendo um investimento cada vez maior em dublagem no nosso país, fazendo com que esses dois campos andem cada vez mais juntos.

Ah, e outra informação importante: muitas vezes a legendagem e a dublagem são realizadas por tradutores diferentes, pois foram encomendadas para fornecedores distintos. Enquanto eu traduzo uma produção para dublagem em um estúdio, muitas vezes o pedido da legendagem da mesma produção foi feito a outro fornecedor, que contratará por outro profissional. Contudo, há vezes em que ambos os pedidos são encomendados para um mesmo estúdio e, caso o tradutor domine tanto a legendagem quanto a dublagem, ele ganhará muito mais, pois irá lidar com esses dois espectros de tradução das produções.

Agora vamos abordar uma das principais características que une esses dois segmentos: a restrição. A legendagem, como já foi dito, é restringida pelo número de caracteres e pelo tempo que a legenda fica na tela, enquanto a dublagem é restringida pela boca dos personagens. Essa restrição, obviamente, impede uma tradução “na íntegra” tal como tende a ocorrer na tradução escrita, por exemplo. Devido a esse fator, mudanças e intervenções por parte do tradutor não só podem, como precisam ser feitas, como omissões de algumas informações, a exemplo de um advérbio ou de um adjetivo ou até uma rescrita completa de uma legenda ou de uma fala em casos mais extremos, mas sempre cuidando para manter as informações essenciais.

Ainda dentro dessa questão, ocorre um equívoco de que a dublagem consegue manter o conteúdo integral do original e que a legendagem é a síntese da síntese. Nada é preto no branco, e essa manutenção maior ou menor de conteúdo depende muito do produto em questão. O que eu costumo dizer é que, na verdade, existe uma tendência, repito, uma tendência a se manter mais informações do original na tradução para dublagem, já que os dubladores podem falar mais rápido caso necessário, diferentemente da legendagem, cujas regras de espaço e tempo são mais rígidas e menos benevolentes.

Mesmo assim, já vi legendas de produções em que eu fui responsável pela tradução para dublagem e que conseguiram manter mais conteúdo do que a minha tradução, acredite se quiser. Lembre-se sempre: nada é tão simples quanto parece, e cada caso é um caso. Inclusive, escrevi um post para o blog da LBM (Little Brown Mouse) inteiramente focado nessa questão da restrição desses dois segmentos. Para conferir, é só clicar aqui!

Está pensando que acabou? Nada disso! Por ser um assunto tão extenso, a segunda parte do post sai na sexta-feira que vem. Vamos abordar a importância da imagem nessas duas modalidades e como cada uma lida com a linguagem. Ficou curioso? Então não perca o desfecho na semana que vem. Um grande abraço e até o próximo post! 😉

Paulo Noriega

Sou autor do blog Traduzindo a Dublagem e tradutor atuante nas áreas de dublagem e editorial. Amo poder compartilhar meu conhecimento a respeito do universo da dublagem e da tradução para dublagem. Seja bem-vindo a este fascinante universo!

4 Comentários

Eduardo Friedman

19 de março de 2018

Paulo, é um prazer imenso figurar numa lista com nomes já tão conhecidos no mundo da tradução audiovisual, e agradeço o convite de ajudar com o texto!

    Paulo Noriega

    22 de março de 2018

    Muito obrigado pela sua ajuda, Friedman. O prazer é meu em te ter por aqui, meu querido. Grande abraço. =)

José Luiz Corrêa da Silva

20 de março de 2018

Passei a assistir a filmes dublados por conta dessa modalidade de tradução, e sempre que é possível acompanho com a legenda em outro idioma. Há trabalhos impecáveis e essa prática tem me rendido bons aprendizados de tradução. Parabéns pelo seu trabalho e pelo post. Aguardamos o próximo capítulo…kkk

    Paulo Noriega

    22 de março de 2018

    Que bom que o audiovisual está te agregando, José. Fico muito feliz por estar sempre por aqui e sim, aguarde a parte 2 que está muito legal também. 😉

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